Deixando a desejar

Brasil gasta muito menos do que outros países no combate ao coronavírus, diz FGV

Segundo levantamento do Observatório Fiscal, Brasil gasta um décimo da média dos países no combate à propagação da covid-19

Comune di Venezia/Fotos Públicas
Comune di Venezia/Fotos Públicas
A cidade de Veneza, na Itália, vazia, na última sexta-feira (20)

São Paulo – Com um governo avesso ao gasto público, o Brasil fica bem atrás de outros países no que se refere a medida de combate à expansão do coronavírus. É o que aponta levantamento divulgado pelo Observatório de Política Fiscal, ligado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas. O observatório aponta gastos equivalente a pouco mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB), ante 17% em alguns países.

Tabela elaborada pelo instituto mostra um conjunto de medidas fiscais e parafiscais já anunciadas, que somam, no total, R$ 844 bilhões, valor correspondente a 11,6% do PIB. Mas os técnicos destacam que a ação de maior impacto é a redução de requerimento de capital dos bancos para ampliar a capacidade de crédito (R$ 672 bilhões).

“Como essa medida não tem natureza fiscal e o governo só deve participar dela na medida em que os bancos públicos forem mais arrojados, é importante avaliar o total das medidas excluindo essa ação”, acrescentam. Isso já leva a uma redução para 2,86%, mas o cálculo ainda diminui.

“Ainda se considerarmos que muitas ações se referem a antecipações de despesa que terão impacto muito pequeno, pois a crise será mais duradoura, o total anunciado é ainda mais inexpressivo, atingindo apenas 2,05% do PIB”, diz o Observatório Fiscal. “Comparado com o que outros países estão fazendo, que está se aproximando de 20% do PIB, o pacote brasileiro ainda está deixando muito a desejar.”

Confira aqui a íntegra do estudo.

EUA e Europa

“Em geral as medidas buscam aliviar o fluxo de caixa das empresas, repor renda das famílias e reforçar a capacidade dos sistemas de saúde. Nem todas as medidas tiveram impactos financeiros anunciados”, lembra o observatório. Nos Estados Unidos, por exemplo, os valores já chegam a 6,3% do PIB, mas ainda podem aumentar para 11,3%.

No Reino Unido, o total de medidas chega a 17% do PIB. “No último dia 20, o Tesouro Britânico anunciou que reporá até 80% da renda dos trabalhadores em lay off até o salário de 2.500 libras por mês, um patamar superior à renda mediana”, informa o observatório. Lay off é uma medida que também existe no Brasil e prevê suspensão dos contratos de trabalho.

Na Espanha, país muito atingido pelo vírus, o programa já anunciado pelo governo soma 17% do PIB. “Além de garantias públicas para empréstimos e programas de renda para os informais, existem ações para garantir serviços públicos básicos como eletricidade, acesso à água e internet e manter a renda com a suspensão de hipotecas imobiliárias”, diz ainda o instituto da FGV, acrescentando que Alemanha e França “vão em caminhos muito similares”, com suporte equivalente a 12% e 13,1% do PIB, respectivamente.



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