Instituto Ethos:

‘Empresas têm responsabilidade social e não podem flertar com dúvidas científicas’

Parte do setor patronal insiste em apoiar Bolsonaro contra o distanciamento social e em duvidar da ameaça de epidemia generalizada

Ana Reis/Flickr ESPM
Ana Reis/Flickr ESPM
Instituto Ethos critica a postura do grupo empresarial, que continuam fechados com atual governo

São Paulo – O diretor-presidente do Instituto Ethos, Caio Magri, criticou representantes de setores empresariais que vão na contramão das organizações de saúde – ao apoiar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em seus pronunciamentos minimizando a ameaça de explosão do contágio da população brasileira pelo coronavírus. Para o ativista, esses empresários são a “face mais vergonhosa da sociedade”.

“As lideranças empresariais, religiosas e da própria sociedade estão cavalgando na crise para seus interesses particulares. Esses líderes, que um dia assumiram a responsabilidade social em algum momento, precisam demonstrar a verdade desse engajamento, o que não permite qualquer flerte com dúvidas científicas”, criticou Magri, em entrevista à Rádio Brasil Atual na manhã desta quarta-feira (25). O Ethos é uma entidade que promove direitos humanos, civis e sustentabilidade junto ao setor patronal.

Para conter ao máximo os impactos da pandemia do coronavírus (transmissor da Covid-19) e o contágio generalizado, vários países, inclusive o Brasil, estão adotando medidas de supressão da atividade econômica, fazendo com a maior parcela possível da população permaneça em suas casas. No Brasil, porém, diversos empresários apoiadores do presidente têm se manifestado contra o distanciamento social e colocam em dúvida a potência do vírus.

Nesta semana, por exemplo, Junior Durski, dono da rede de hamburguerias Madero, disse que o Brasil não pode parar por conta de “5 mil pessoas ou 7 mil pessoas que vão morrer”. Falas semelhantes foram feitas por outros empresários, como Roberto Justus e Luciano Hang, das lojas Havan.

Caio afirma que esses empresários continuarão no núcleo duro que se colou nas políticas econômicas, culturais e ideológicas da construção do governo Bolsonaro. “Eles vão todos juntos para o fundo do poço”, acrescenta.

Responsabilidade social

Apesar disso, Magri acredita que segmentos do setor patronal irão propor mudanças positivas, a partir da atual crise e recomenda caminhos para os empresários adotarem, visando preservar ao máximo a população do coronavírus e pensando na retomada da atividade econômica após o pico da atual crise de saúde pública ter passado.

“A gente propõe que eles pensem em dois caminhos: o primeiro é a relação entre os trabalhadores, num processo aberto de diálogo e com medidas que garantam os empregos; o segundo é com a sociedade e apresentar total transparência, apoiando as campanhas que reduzam os impactos sobre as populações vulneráveis. Não dá só para pensar no curto prazo, temos que pensar no pós coronavírus e como reconstruírem o país“, acrescentou.

Pronunciamento

Em pronunciamento nesta terça-feira (24), Bolsonaro voltou a minimizar a ameaça do coronavírus. Novamente agrediu a imprensa, responsável, segundo ele, por espalhar no país uma “verdadeira histeria”.

Caio Magri viu com gravidade o discurso do presidente e chamou a fala de “provocação contra a sociedade”. “Quando ele diz que é capaz de estar fisicamente acima de qualquer ameaça é psicótico. Ele busca mais confrontos do que uma saída para a economia, que se tornou uma motivação oportunista. O seu governo está incapacitado de continuar, ele perdeu todas suas bases”, criticou.


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