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Queda da atividade industrial reflete erros do governo Bolsonaro, que prioriza exportar produto primário, diz Dieese

Produção industrial brasileira caiu 1,1% de 2018 para 2019, interrompendo uma sequência de dois anos positivos

EBC
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Fausto explica que a queda da participação industrial no PIB ocorre há dez anos, com um processo acelerado de desindustrialização. 'O atual governo não tem uma política clara para a indústria e vimos uma consequência disso'

São Paulo – A queda da produção industrial brasileira em 1,1% mostra que a economia não apresenta melhoras e que o governo Bolsonaro erra ao intensificar a pauta sobre produto primário, ao invés de promover um desenvolvimento industrial. A avaliação é do novo diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, em entrevista a Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual, nesta quarta-feira (5). Ele afirma que o mundo e as cadeias industriais estão se reorganizando e o Brasil está ficando para trás. “Se a gente não mudar, vamos ter um país que se transforma numa grande fazenda. A pauta da indústria transcende o setor, tem a ver com a lógica de desenvolvimento do país”, alertou.

Segundo o IBGE, queda da produção industrial de 2018 para 2019, interrompe uma sequência de dois anos positivos e também o discurso de “retomada” da economia. Destaque para o setor extrativo, que caiu 9,7%, com pressão do item minérios de ferro, com um provável “efeito Vale”, devido à tragédia de Brumadinho (MG). Mas outros segmentos também registraram queda significativa, como metalurgia (-2,9%) e celulose/papel (-3,9%).

Fausto explica que a queda da participação industrial no PIB ocorre há dez anos, com um processo acelerado de desindustrialização. “O atual governo não tem uma política clara para a indústria e vimos uma consequência disso, em 2019”, lamentou ele, que aponta outros problemas para a redução.  “Há problemas na indústria extrativa, como ocorreu em Brumadinho, mas tem uma baixa produção também por conta do consumo. A economia não cresce e não alavanca a produção”, acrescentou.

Na última segunda-feira (3), foi realizado o primeiro ato das centrais sindicais em 2020, que criticaram o governo e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, pelo apoio explícito a Jair Bolsonaro. As centrais divulgaram um documento com propostas para a produção industrial e apontando para a atual “desimportância” do setor.

O diretor técnico do Dieese endossa a manifestação e diz que é preciso entender a gravidade do momento atual. Ele critica também o fato da Fiesp se afastar da indústria para se aproximar de interesses políticos. “A indústria não é só a Fiesp, principalmente no conjunto enorme de empresários e trabalhadores vinculados ao segmento. Temos uma indústria defasada, que não consegue construir suas pontes para futuro. Essa discussão política (do Skaf) não tem interesse na indústria, mas sobre disputas políticas neste ano de eleição”, afirmou.

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