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Petrobras: ‘lucro recorde’ com alta dos combustíveis e venda de ativos

Análise do Dieese aponta que Petrobras tem atuado para garantir apenas os interesses dos acionistas, em vez de garantir combustíveis a preço justo e investir no país

Valéria Gonçalvez / Agência Petrobras
Valéria Gonçalvez / Agência Petrobras
Com venda de ações, União reduz participação nos lucros da Petrobras

São Paulo – Em balanço divulgado nesta quarta-feira (19), a Petrobras anunciou lucro recorde de R$ 40,1 bilhões em 2019, crescimento de 55,7% em relação ao ano anterior. Os números foram comemorados pelo governo, mercado financeiro e mídia tradicional. Mas revelam distorções importantes na atuação da estatal.

Grande parte desse montante se deve à venda de ativos, que somaram R$ 67,1 bilhões. Além da venda de ações por parte do BNDES e da Caixa Econômica Federal, a empresa concluiu a venda da Transportadora Associada de Gás (TAG) e da BR Distribuidora.

Segundo a subseção do Dieese na Federação Única dos Petroleiros (FUP), são resultados que não vão se repetir nos próximos balanços. “Pelo contrário, os lucros que essas empresas dariam, não vão dar mais. Não é duradouro”, afirmou o economista e técnico daquele instituto, Cloviomar Cararine, em participação no Jornal Brasil Atual, nesta sexta-feira (21).

Ele explica ainda que a parte duradoura do lucro, oriunda da exploração dos poços do pré-sal, que hoje representa mais de 60% da produção, tem pouco a ver com a atual gestão da Petrobras. São investimentos de longo prazo que decorrem desde 2006, quando esses campos foram descobertos.

Falso recorde

Cararine também relativizou o “recorde” anunciado. Convertido em dólar, o lucro total chegaria a US$ 10,2 bilhões. Entre 2005 e 2013, os lucros da Petrobras ultrapassaram a casa dos US$ 12 bilhões. Em 2010, chegaram a US$ 35 bilhões.

“Não é o maior lucro da história”, aponta o técnico do Dieese. Mais importante do que o valor total, é entender como a empresa chegou a esse número, segundo ele. Dentre os fatores, estão o aumento dos preços dos combustíveis e a redução nos investimentos, que se somam à venda de ativos.

Preços

“Para se ter uma ideia, entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2019, a Petrobras reajustou os preços da gasolina nas refinarias em 28%, do Diesel em 27% e do GLP, em 10%, para uma inflação que ficou em menos de 4%”, detalha o economista. Concomitantemente, a empresa vem reduzindo a capacidade de produção das refinarias e aumentando a importação de derivados, enquanto aumenta a exportação de petróleo cru.

Desinvestimento e desemprego

Em 2019, a empresa investiu R$ 112,9 bilhões, mas R$ 68,8 bilhões foram destinados para a aquisição de campos do pré-sal. Entre 2009 e 2015, a média de investimento produtivo foi de R$ 80 bilhões por ano, em valores não corrigidos. Em 2013, alcançou a casa dos R$ 100 bilhões, também em valores não atualizados.

“Com isso, obras começadas estão paradas, não gerando renda para estados e municípios, e empregos estão sendo perdidos. A empresa chega em 2019 com 103 mil trabalhadores terceirizados, quando já teve 360 mil. Em torno de 58 mil trabalhadores próprios, enquanto já teve mais de 80 mil. Se olharmos o volume de empregos perdidos de 2013 para cá, chegaríamos a um volume de 280 mil empregos a menos”, afirma Cararine.