Voo de galinha

Mercado começa a voltar à realidade e reduz projeções para 2020

Segundo Fausto Augusto Junior, crescimento atual é “voo de galinha” e amplia desigualdades

Roberto Parizotti
Roberto Parizotti
Vendas do comércio durante o Natal ficaram abaixo das expectativas

São Paulo – Economistas do mercado ouvidos pelo Banco Central (BC) reduziram suas projeções para 2020. Segundo o Boletim Focus, divulgado na última segunda-feira (17), a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 2,3% para 2,23% neste ano. Para 2019, as projeções do mercado apontam crescimento de 0,89%. Os dados oficiais serão divulgados pelo IBGE em março. A revisão para baixo, segundo o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, indica que o “mercado” reorganiza suas referências para dar informações mais “reais” aos investidores.

As projeções mais otimistas foram seguidamente desmentidas pela redução na produção industrial e dos resultados do comércio, menos aquecido do que o esperado durante o Natal. Mais grave ainda, as altas taxas de desemprego demoram a ceder, e são camufladas pelo trabalho precário. O resultado, segundo o diretor do Dieese, é o aumento da desigualdade social.

“O que estamos assistindo é que no ano passado crescemos quase 1%, menos do que desejaríamos. Muito pior do que isso, apesar de crescer, a média da população piorou. Os carrinhos ficam mais vazios, as pessoas estão comprando menos. Isso tem a ver com a ampliação da desigualdade. Crescimento econômico não necessariamente quer dizer desenvolvimento econômico e social”, afirmou à jornalista Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta terça-feira (18).

Fausto classifica o crescimento atual como “voo de galinha”. Segundo ele, para se traduzir em bem-estar, seria preciso, por exemplo, haver ampliação dos serviços públicos e também do poder de compra da população. Além de um crescimento que fosse sustentável ambientalmente. Ele citou as recentes enchentes nos estados de São Paulo e Minas Gerais que, mais uma vez, atingiram principalmente os mais pobres, prejudicados não apenas por morarem nas áreas de risco, mas também por sofrerem com a alta no preço dos alimentos.