Belluzzo

Brasil perde ao sair da lista de países em desenvolvimento

Decisão de Donald Trump inviabiliza instrumentos da política econômica que poderiam ajudar o país a recuperar seu crescimento, explica o economista Luiz Gonzaga Belluzzo

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Exclusões da lista de países em desenvolvimento dá margem aos EUA para reduzir tratamento especial

São Paulo – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou o Brasil da lista de países em desenvolvimento. A Casa Branca excluiu ainda outros 18 países também perde o status, como África do Sul, Índia e Colômbia.

O governo estadunidense justifica a medida como uma forma de garantir o ingresso na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Mas, na prática, a decisão dá margem aos Estados Unidos para reduzir o número de nações que poderiam receber tratamento especial sem serem afetados por barreiras contra seus produtos, restringindo os benefícios comerciais.

Sem o status, o Brasil tem mais prejuízos do que ganhos, explica o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em entrevista à Rádio Brasil Atual.

De acordo com Belluzzo, entre as vantagens proporcionadas por estar entre os países em desenvolvimento estão a garantia de um prazo maior para negociação, incentivos tarifários e de acesso a mercados dentro de um arranjo internacional em que a concorrência é feita de maneira desigual.

“Nas relações econômicas e internacionais, se as políticas tiverem calibre suficiente para reparar isso, você vai conseguindo sair de uma posição subalterna para se instalar numa posição de quase igualdade, mas não é o caso do Brasil agora”, avalia Belluzzo, citando a medida como uma “reação de Trump para desmontar toda a arquitetura que favorece os países periféricos”. Ainda segundo o professor “está claro que entrar na OCDE é desvantagem para o Brasil”.

“Só tem um sentido de merchandising publicitária, porque as pessoas olham ‘estamos na OCDE, que maravilha’, mas não tem maravilha nenhuma. Na verdade você está perdendo instrumentos de política econômica que podem ajudar você a recuperar seu desenvolvimento”, destaca Belluzzo.

A substituição do trabalhador

O economista ainda avaliou os impactos dessas movimentações sobre o trabalhador que já vive um cenário de precarização dos empregos. Em artigo publicado no site da revista CartaCapital, onde é consultor editorial, Belluzzo analisou o mercado de trabalho dos Estados Unidos, que segue com um índice de desemprego considerado baixo, mas com cada vez mais postos de trabalho criados de forma pouco atrativa, com rendimentos e direitos baixos. 

A situação, no entanto, não é algo particular, mas “um fenômeno mais ou menos generalizado, que tem suas manifestações peculiares em cada país”, inclusive no Brasil, onde o desemprego é alto e os empregos criados são em grande parte informais, autônomos e com remuneração baixa, também por conta da concorrência com a China, as novas tecnologias e o surgimento de plataformas em que o trabalhador é autônomo, mas trabalha para outros.

“Isso revela a tendência do capitalismo, nessa sua fase que a gente diria mais avançada e financeirizada, e com essas tecnologias que substituem o trabalhador rapidamente por máquinas, equipamentos, nós estamos em uma dissolução das relações salariais”, avalia Belluzzo. “É um momento de transição e transformação muito importante que o mundo deveria estar se preocupando da mesma forma que se preocupa com a degradação ambiental, porque isso é uma degradação social, que nasce do próprio movimento desse sistema.”

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