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Oxfam: pesquisa mostra que não se faz nada para enfrentar a concentração de riqueza 

Diretora do instituto destaca contribuição do governo Bolsonaro para o aumento da desigualdade no país. "(Combatê-la) deveria ser prioridade de qualquer pessoa política que se diz preocupada com o bem da sociedade"

Fernando Frazão/EBC
Fernando Frazão/EBC
Ausência de integrantes mulheres no governo, reformas neoliberais e discursos machistas do presidente e seus ministros, reforçam exploração das mulheres e abismo social entre ricos e pobres

São Paulo – Relatório da Oxfam, divulgado neste domingo (19), apontando um aumento na concentração de renda no mundo, comprova “que não se está fazendo nada para efetivamente enfrentar a concentração de riqueza”. A análise é da diretora executiva da organização no Brasil, Katia Maia, em entrevista aos jornalistas Nahama Nunes e Glauco Faria, da Rádio Brasil Atual. “É uma concentração de riqueza absurda, baseada muitas vezes em heranças, outras vezes numa tributação que é favorável a esses super ricos, enquanto a maioria da população no mundo enfrenta uma situação de pobreza”, critica.

Entre os diversos dados que expõem um abismo social que separa a elite mais rica das populações mais pobres, o documento Tempo de Cuidar – O trabalho de cuidado mal remunerado e não pago e a crise global da desigualdade, destaca que 2.153 bilionários do mundo possuem uma riqueza maior do que 4,6 bilhões de pessoas, aproximadamente 60% da população global. E o Brasil, apesar de ser um país periférico, não deixa de contribuir para essa concentração de renda, ao deixar de lado, por exemplo, a taxação de grande fortunas. “Apesar de estar escrito na Constituição, isso nunca foi implementado”, observa a diretora executiva.

Há pouco mais de um ano no poder, o governo de Jair Bolsonaro também tem deixado sua “contribuição” para a desigualdade, que aprofunda as diversas clivagens desse problema na sociedade brasileira. A começar pela exploração ainda maior sobre o trabalho de mulheres e meninas, enquanto bilionários acumulam fortunas. São elas as responsáveis por 75% do trabalho de cuidado, não remunerado, realizado no mundo. Uma desigualdade que faz com que a economia global perda US$ 10,8 trilhões por ano, e que também diz muito sobre a violência e a falta de representação política.

Na alta cúpula do governo Bolsonaro, há 20 ministros homens, mas apenas duas mulheres ocupando o mesmo cargo. E uma delas, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que, assim como o presidente, reforça o discurso machista de que o trabalho doméstico é unicamente responsabilidade das mulheres. Além de ser um governo que vem que impulsionando reformas com a retirada de direitos sociais.

“Você tem um conjunto não só de reformas, mas também de cortes em gastos sociais, eliminação de políticas que eram políticas de promoção dos direitos das mulheres, que faz com que o desafio de cidadania das mulheres, de elas poderem usufruir dos seus direitos, vão ficando mais difíceis. E tem um outro fator, que no caso do Brasil é muito significativo, que é quando a gente cruza isso com o racismo. As priores condições e os piores salários são para as mulheres negras e isso precisa ser enfrentado pela nossa sociedade”, alerta Katia.

“É  difícil imaginar que, com tantas desigualdades, isso não seja uma prioridade do governo (….)  isso deveria ser prioridade de qualquer pessoa política que se diz preocupado com o bem da sociedade brasileira”, ressalta.

Confira a entrevista da Rádio Brasil Atual