soberania nacional

Ato da CUT em Brasília protesta contra política econômica de Paulo Guedes e Bolsonaro

"É um governo sem legitimidade", diz Sérgio Nobre. "Temos um miliciano na Presidência da República", questiona Boulos

Lula Marques
Lula Marques
Categorias como bancários, metalúrgicos, petroleiros, professores, servidores públicos federais, além de trabalhadores em estatais como Eletrobras e Correios, terceirizados e desempregados participam da mobilização, na capital

São Paulo – A CUT realizou ato público nesta quarta-feira (3),  em Brasília, com objetivo de protestar contraas políticas neoliberais do governo Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes. Por mais direitos e em defesa das estatais brasileiras e do serviço público, os manifestantes denunciaram os riscos que o país corre com as ações econômicas da gestão federal.

O presidente recém-eleito da central, Sérgio Nobre, alerta para os anúncios de liquidação do patrimônio feitos por Guedes de venda do patrimônio do povo brasileiro. “As estatais ão instrumento de desenvolvimento do país, então não podemos permitir isso. Num país como o Brasil, onde a iniciativa privada não investe, a única possibilidade de crescer é com investimento do Estado”, defende.

Categorias como bancários, metalúrgicos, petroleiros, professores, servidores, além de trabalhadores em estatais como Eletrobras e Correios, terceirizados e desempregados participam da mobilização.

Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), classifica o discurso de Bolsonaro como falsa defesa da soberania, e ressalta que faltam no vocabulário do governo medidas pela criação de empregos e por crescimento econômico.

A presidenta da Contraf-CUT fez ainda a defesa dos bancos públicos, alvos também do governo Bolsonaro. “Eles têm importância no desenvolvimento regional. Mais de 90% dos créditos concedido em todos estados, exceto no Sudeste, são dos bancos públicos. Se acabar com eles, só a região Sudeste vai ter financiamento, além das taxas de juros abusivas. Enquanto os privados querem lucrar, os públicos querem gerar desenvolvimento.”

As consequências disso são a retirada de direitos, a privatização e os baixos salários”, acrescenta a dirigente, observando que o governo segue na contramão do mundo. “Entre 2000 e 2017, diversos países reestatizaram pelo menos 884 empresas.”

A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) ,lembra que a atual política econômica brasileira, baseada no desmonte, foi aplicada no Chile – alvo de diversos protestos nas últimas semanas. “Esse vento sopra no Brasil, hoje, mas soprou por muito tempo no Chile, Argentina e Equador. O Bolsonaro está colocando uma das agendas mais nocivas que já vimos, que destrói artigos constitucionais”, criticou a parlamentar.

Governo de milícias

Além de classificar como “um governo da destruição”, Sérgio Nobre citou as novas denúncias envolvendo o presidente Jair Bolsonaro e investigações do assassinato de Marielle Franco. “É um governo sem legitimidade, depois da denúncia grave sobre o Bolsonaro e seu envolvimento com as milícias. É grave o que acontece com o Brasil”, alertou.

O coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, candidato a presidente da República pelo Psol em 2018, disse que é preciso frear o governo. “Vamos dar um basta também no governo formado por milicianos. Temos um miliciano na Presidência da República. Se for comprovada a denúncia de ontem, ele será cúmplice e Bolsonaro não terá condição de continuar no cargo.”

Apesar das ameaças do governo de não permitir que manifestações como as do Chile ocorram em solo brasileiro, Boulos afirma que o povo irá às ruas, em breve. “Nós tomamos as ruas, neste ano, contra a reforma da Previdência, por Lula Livre, defendendo a educação e os direitos sociais, mas o copo não estava cheio. Agora, com o desgaste do governo e a desmoralização dele, o copo encheu e pode vir a gota d’água. A revolta do povo chileno contra o neoliberalismo será exemplo para os brasileiros. Vamos tomar as ruas do país para derrotar essa política entreguista”, convocou.

Carta aberta

As Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, junto com a CUT, Força Sindical, UGT, CTB, CSB e Intersindical, publicaram uma carta aberta contra as políticas adotadas pelo governo Bolsonaro nos 10 meses de gestão. Eles criticam as faltas de ações adotadas e as medidas que aprofundam mais a crise do país, como a reforma da Previdência.

No texto, os movimentos sociais e sindicais também denunciam o aumento da desigualdade, o crescimento do desemprego e a promoção da destruição nacional. “Não podemos mais aceitar que o povo trabalhador seja tratado como responsável por essa crise, como querem Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes. Para eles, a “solução” é tudo para os ricos e patrões e a destruição, o corte e a comercialização dos direitos da maioria do povo”, escrevem

Leia carta completa

Nós, brasileiros e brasileiras, trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, mulheres, jovens, negros e negras, construtores e construtoras do movimento sindical e das lutas populares do nosso país, nos mobilizamos nesta quarta-feira, 30 de outubro de 2019, nas ruas da capital federal, para manifestar nossa indignação com o governo Jair Bolsonaro e sua política econômica que agrava a crise econômica, não gera empregos, ataca nossos direitos sociais e a soberania do nosso país.

As ações e as reações do governo – e a falta delas – só fazem piorar a situação do povo brasileiro. A economia não cresce. Os desempregados já são 12,6 milhões. Somando desempregados, trabalhadores desalentados e aqueles que só conseguem trabalhos com jornadas parciais, o Brasil tem hoje 27,8 milhões de trabalhadores subutilizados.

A desigualdade social só aumenta. O 1% mais rico do país, que são 2,1 milhões de pessoas, ganham 34 vezes mais do que os 104 milhões de brasileiros que compõem a metade mais pobre da população. Os rendimentos dessa parcela mais rica cresceu 8%, enquanto o dos mais pobres caiu 3%. De toda a renda do Brasil, 40% estão nas mãos de apenas 10% da população, dados que revelam recordes históricos de desigualdade.

Temos um governo que assiste e promove a destruição do país. O ano iniciou com mais um crime da Vale, matando 251 trabalhadores em Brumadinho e vemos, até agora, a inércia do Estado na responsabilização e punição dos envolvidos. Assistimos, depois, a escalada criminosa das queimadas na Amazônia e, agora, o óleo que mancha e polui o litoral do Nordeste sem que o presidente Bolsonaro se digne sequer a visitar a área. É sempre o lucro acima da vida.

Não podemos mais aceitar que o povo trabalhador seja tratado como responsável por essa crise, como querem Bolsonaro e seu ministro Paulo Guedes. Para eles, a “solução” é tudo para os ricos e patrões e a destruição, o corte e a comercialização dos direitos da maioria do povo. Assim foi com a reforma da Previdência, com os cortes na educação, o congelamento dos investimentos sociais e as propostas de reforma administrativa, tributária e de mais cortes nos direitos dos trabalhadores.

Como se não bastasse todo esse retrocesso e inércia, Bolsonaro e Paulo Guedes colocam o Brasil à venda. Querem liquidar nosso patrimônio, vendendo empresas públicas lucrativas, estratégicas, que são motivo de orgulho para os brasileiros. Entregam nosso futuro planejando o leilão das nossas reservas de petróleo e minando a capacidade de nossas universidades produzirem pesquisa, ciência e tecnologia. Entregam nossa soberania e, com ela, destroem nossa capacidade de projetar um desenvolvimento econômico e social independente e de superar mais essa crise.

Com essa agenda de retrocessos, não espanta a baixa popularidade do governo. O presidente e seus ministros(as) fazem o brasileiro passar vergonha internacional em todas as oportunidades, alinhando-se ao que há de mais atrasado na política internacional. A prática e o discurso de Bolsonaro são fontes de ódio e ataques à diversidade, às mulheres, à população negra, LGBT e a todos/as que lutam por seus direitos.

Frente a esse cenário sombrio, o povo brasileiro está desafiado a resistir e enfrentar esses ataques nas ruas, como fazem nossos irmãos do Chile e do Equador. Na Argentina, o povo já disse basta a esse neoliberalismo autoritário e fracassado. Na Bolívia, Colômbia e Uruguai, quando a democracia é respeitada, o povo escolhe o caminho do desenvolvimento com paz, inclusão social e integração regional. Nos solidarizamos e nos somamos à resistência latino-americano contra um projeto de saque das nossas riquezas e exclusão dos povos da nossa região.

Esse caminho da exclusão não nos representa, assim como Bolsonaro, Paulo Guedes e aqueles que apoiam no Congresso esse governo e sua política. Defendemos e lutamos pelas alternativas que façam do governo parte da solução dos problemas dos brasileiros. Nos comprometemos a dialogar com a classe trabalhadora e todo o povo brasileiro em torno das alternativas que estimulem o crescimento econômico e a geração de empregos de qualidade, garantam nossos direitos, promovam a justiça social e se comprometam com a soberania e a democracia no Brasil.

Chega de Bolsonaro e Paulo Guedes!