Comércio em risco

Para líder árabe, atos de Bolsonaro podem abrir ‘precedente catastrófico’

Segundo Mohamad El Kadri, Brasil tem passado vergonha no mundo por causa da postura do governo Bolsonaro

ALEX CAPUANO/CUT

Em 2017, o Brasil teve um superávit de US$ 7,1 bilhões na balança comercial com os 22 países da Liga Árabe

São Paulo – O presidente da Associação Islâmica de São Paulo, Mohamad El Kadri, afirma que está sendo uma surpresa para o mundo árabe o tom da visita do presidente Jair Bolsonaro (PSL) a Israel, considerando que o Brasil sempre manteve um posicionamento político diferente ao lidar com a questão palestina e a política no Oriente Médio. “O pessoal está espantado, admirado negativamente com essa postura do Brasil. Depois de muitos anos foi mudada totalmente a postura brasileira”, disse ele, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.

Os países árabes estão entre os principais parceiros comerciais do Brasil. Em 2017, o país teve superávit de US$ 7,1 bilhões na balança comercial com os 22 países que compõem a Liga Árabe. O valor representa mais de 10% dos US$ 67 bilhões de superávit que o Brasil alcançou na balança comercial.

Um dos fatores dessa relação positiva é a exportação de carne halal, que demanda um ritual islâmico específico para o abate de animais, tanto de carne de frango quanto bovina. Entre as regras está a obrigatoriedade de o corpo do animal, no momento do abate, estar voltado na direção de Meca, cidade sagrada do islamismo, situada na Arábia Saudita. O abate também deve ser realizado por um muçulmano. Empresas brasileiras que exportam carne halal para os países árabes têm plantas indústrias especiais para realizar esse abate.

O risco de atrapalhar uma relação tão positiva fez com que até mesmo lideranças políticas do agronegócio – tradicionais aliados de Bolsonaro – reagissem ao comportamento do presidente. Para Mohamad EL Kadri, Bolsonaro deve se preocupar com o bem do país, não com suas atitudes pessoais. “É uma inconsequência que pode abrir um precedente catastrófico para o Brasil”, afirma o presidente da Associação Islâmica de São Paulo. Ele destaca que o risco de perder comércio com os países árabes pode causar mais desemprego no Brasil.

“Estamos passando uma vergonha mundial com o que eles têm declarado e as posições que esse governo tem tomado. O presidente tem que governar. Que coisa é essa? Eu sou presidente e governo e faço o que me vem à cabeça, a meu bel-prazer?”, questiona El Kadri.

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