soberania

Químicos da Braskem e indústria do plástico temem efeitos da desnacionalização

Trabalhadores estudam estratégia para preservação do emprego caso negócio com grupo holandês se confirme. Abiplast diz que monopólio estrangeiro no fornecimento de polietileno e polipropileno preocupa

Divulgação

Químicos devem anunciar estratégia nacional para preservação do emprego em caso de venda da Braskem

São Paulo – Enquanto o mercado financeiro se agita com a possibilidade de acordo entre a Odebrecht e a holandesa LyondellBassell para a venda da petroquímica Braskem, a notícia não é bem recebida pelo setor produtivo. Tanto trabalhadores da companhia como indústrias da cadeia de consumo de resinas e insumos químicos para a produção de plásticos estão apreensivos com as consequências da desnacionalização do setor. 

Enfraquecida pelas ações da Lava Jato, a Odebrecht anunciou em junho acordo para a venda de sua participação de 38,3% na Braskem para a empresa holandesa. A Petrobras, que detém outros 36,1%, já anunciou que deverá fazer a venda conjunta das suas ações.

A Braskem é hoje a sexta maior companhia do mundo no setor petroquímico. Além do Brasil, tem plantas nos Estados Unidos, no México e na Alemanha. Por aqui, a companhia emprega cerca de 6 mil trabalhadores, com 2.500 só no Polo Petroquímico de Camaçari, na Bahia. Se confirmada a fusão, a LyondellBasell deve se tornar a maior produtora de resinas termoplásticas do mundo. A expectativa do mercado é que o negócio seja firmado em até dois meses.

Para os trabalhadores, o risco é o redução do emprego, já que a holandesa, que opera com uma fábrica no Brasil, pode fechar determinados setores coincidentes, ou repassar plantas não complementares para outras empresas. “Eles podem querer fechar algumas empresas, ou transferir para outro grupo econômico, para reorganizar o segmento”, afirma o diretor da Confederação Nacional do Ramo Químico (CNQ-CUT) e do Sindiquímica-BA, Carlos Itaparica, funcionário da companhia.

Ele alerta ainda para uma “dependência perigosa” para produtores de plástico, já que a LyondellBasell poderia passar a ditar o preço das resinas no Brasil. Itaparica diz que a Braskem já atua de maneira monopolística, por se tratar de um setor estratégico, mas as consequência de um monopólio estrangeiro, e sem a participação da Petrobras, seriam mais graves. 

Representantes dos trabalhadores dos polos petroquímicos onde a Braskem atua se reunirão na próxima semana para traçar uma linha unificada de ação em prol da preservação do emprego, no caso de concretização do negócio.

Para a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), que reúne mais de 12 mil empresas que atuam nos setores de transformação e reciclagem de materiais plásticos em todo o país, a iminente desnacionalização da maior produtora nacional do setor também suscita incertezas. 

“Juntas, as petroquímicas darão origem à maior produtora mundial de resinas. A possibilidade de uma companhia estrangeira assumir a única fornecedora nacional de polietileno (PE) e polipropileno (PP) preocupa os transformadores brasileiros”, diz a Abiplast, em nota. 

Para a entidade empresarial, o controle pela holandesa LyondellBasell não deve colaborar para o aumento da concorrência no setor, como alegam representantes do mercado financeiro. “Este argumento é válido para mercados concorrenciais, mas não se aplica ao caso de  resinas termoplásticas onde há um monopólio em um mercado protegido com alíquotas de importação e tarifas antidumping. Esse cenário inibe a concorrência e afasta produtores internacionais que poderiam fornecer seus produtos aos transformadores brasileiros de plásticos. Por isso, caso tais condições sejam mantidas, não conseguimos vislumbrar mudanças nesse sentido.”