Energia

‘Moreira Franco mente descaradamente sobre privatização’, diz dirigente

Trabalhadores do setor de energia promovem o Dia Nacional se Luta contra a Privatização do Sistema Eletrobras na segunda-feira, enquanto ministro das Minas e Energia diz que, se não privatizar, país vai sofrer apagão

Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A lógica da privatização obedece a interesses do capital e do lucro, em detrimento dos interesses da população

São Paulo – Nesta segunda-feira (16), os eletricitários promovem o Dia Nacional de Luta contra a Privatização do Sistema Eletrobras. Segundo a Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), a paralisação tem o objetivo de “reafirmar a defesa da Eletrobras e suas controladas”. O Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE), que integra a FNU, explica que a suspensão das atividades não interferirá no fornecimento de energia à população.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, disse que, se o governo não “capitalizar” a Eletrobras, o país pode sofrer apagão. “Não podemos cometer o erro de fazer da ideologia uma ferramenta para punir as pessoas”, declarou. A afirmação do ministro se dá no primeiro dia como titular da pasta. Ele deixou a Secretaria-Geral da Presidência e foi um dos dez ministros nomeados esta semana por Michel Temer em sua recente reforma ministerial. “A ideologia para problemas que a aritmética resolve é um desastre”, disse ainda o ministro.

Para o vice-presidente da FNU, Nailor Guimarães Gato, a fala de Moreira Franco embute uma chantagem e usa um raciocínio invertido. “É o inverso do que ele afirma. É com a privatização que você vai ter problemas, inclusive aumento da tarifa para a população”, pontua. “Estados Unidos, Alemanha, Canadá, países centrais, não privatizam o setor elétrico por ser estratégico. O ministro Moreira Franco mente descaradamente. Por isso vamos fazer o Dia Nacional de Luta dia 16.”

A manutenção do setor elétrico sob controle do Estado “não é uma questão  ideológica, mas lógica”, diz o dirigente da FNU. “Lógico é o Estado controlar um setor estratégico. Se cair na mão da iniciativa privada, eles vão liberar a água do país para energia produzir energia ou vão desviar para o agronegócio ou ‘privatizar’ os rios?”, questiona Gato.

Ele cita o recente apagão ocorrido no dia 21 de março, sentido em quase todo o Brasil, incluindo as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, mas que atingiu principalmente Amazonas, Alagoas, Sergipe, Ceará, Paraíba, Piauí, Pernambuco, Amapá, Rio Grande do Norte, Pará, Maranhão, Bahia e Tocantins, nas regiões Norte e Nordeste.

Os trabalhadores do Sistema Eletrobras apontam como causa do apagão uma linha de transmissão operada pela empresa chinesa State Grid, no sistema Belo Monte/Furnas. A falha decorreu de testes realizados pela operadora em pleno horário comercial, segundo a FNU.

“O apagão de Belo Monte foi na linha que está na mão da State Grid. Para empresas estatais, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) só libera os testes em comissionamento aos finais de semana e durante a madrugada. Mas, para empresas privadas, libera em qualquer horário, inclusive os de maior consumo”, diz Gato. “Foi o que aconteceu com Belo Monte.”

A State Grid é uma gigante chinesa que, em 2015, arrematou 51% do sistema de transmissão do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte, em leilão promovido pela Aneel. Na época, o projeto estava em construção. Essa enorme linha de transmissão de energia entrou em operação comercial em dezembro de 2017.

Em Goiás, após a privatização da Companhia Energética de Goiás (Celg), a população sofre com constantes cortes de energia. “A cidade de Catalão ficou quase uma semana sem energia elétrica”, diz Nailor. A empresa foi vendida há um ano para a italiana Enel.

A lógica da privatização obedece interesses do capital e do lucro, em detrimento dos interesses da população. “Eles compram um ativo que está instalado, não vão fazer investimento e, aí sim, corremos o risco de apagão, a exemplo do que ocorreu em 2001”, diz o dirigente da FNU, em referência à crise de energia do final do governo presidente Fernando Henrique Cardoso.

Sem contar as geradoras de energia, está “bastante acelerado” o processo de privatização das empresas distribuidoras nos estados do Amazonas, Rondônia, Acre, Roraima, Alagoas e Piauí.

O processo brasileiro ocorre “na contramão do mundo capitalista”, de acordo com Nailor Gato. Para ficar no exemplo da maior potência capitalista do mundo, nos Estados Unidos o governo detém o comando de mais de 70% de toda a geração de energia e quem controla esse sistema são as Forças Armadas.

Ao vender o sistema de energia hidrelétrica, o governo brasileiro compromete inclusive os recursos hídricos do país, já que a fonte da energia são os rios. No caso de Belo Monte, o rio Xingu.

A privatização da Eletrobras, porém, pode não acontecer este ano, como o governo previa. Isso porque depende do Congresso Nacional, e muitos deputados da base governista estão reticentes em apoiar o processo em ano eleitoral.

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