Energia

Em São Paulo, frente parlamentar vai agir contra a privatização da Eletrobras

Deputados estaduais planejam abrir diálogo com a sociedade, mostrando os riscos de se vender o sistema elétrico do país

Arquivo EBC

Temer quer vender a Eletrobras por R$ 14 bilhões, mesmo valor de apenas duas usinas de São Paulo vendidas em 2015

São Paulo – Unindo esforços a movimentos que já ocorrem em âmbito nacional, deputados estaduais de São Paulo lançaram, nessa quarta-feira (25), a Frente Parlamentar em Defesa do Setor Elétrico. A iniciativa, criada pelos parlamentares Alencar Santana e Márcia Lia, ambos do PT, pretende mobilizar a população e a Assembleia Legislativa de São Paulo para impedir a privatização da Eletrobras e do que restou da Companhia Energética de São Paulo (Cesp).

“Estamos sofrendo a ameaça contra nosso patrimônio público, materializado na Eletrobras, que está em vias de ser privatizada. Vamos mais uma vez entregar a nossa riqueza”, criticou a deputada estadual Márcia Lia. O Sistema Eletrobras atualmente é responsável por 31% da geração de energia do Brasil, 48% das linhas de transmissão e 7% da distribuição.

A parlamentar destacou que especialistas avaliam em cerca de R$ 400 bilhões o valor do sistema Eletrobras, embora Michel Temer anuncie que pretende vendê-lo por algo em torno de R$ 14 bilhões. Como comparação, o governo federal vendeu por R$ 13,8 bilhões, em 2015, as usinas de Ilha Solteira e Jupiá para o grupo chinês China Three Gorges (CTG). As duas usinas pertenciam à Cesp e têm capacidade de cinco mil megawatts – o sistema Eletrobras tem capacidade de 45 mil megawatts. Na ânsia de criar o ambiente favorável à venda da estatal, o governo Temer chegou a pagar R$ 2 milhões para piorar a imagem da empresa

“Vamos fazer esse enfrentamento na Assembleia Legislativa, mobilizar, fazer atos. Entendemos que energia não é mercadoria, energia é para impulsionar o desenvolvimento”, afirmou Márcia Lia, vice-coordenadora da frente parlamentar recém-criada, e que conta com a adesão de deputados do PT, PCdoB, Psol e “até do DEM”. “Estamos vivendo o país do entreguismo”, lamentou, citando também as mudanças nas regras de exploração do pré-sal, que beneficiaram empresas estrangeiras, e a recente tentativa do governo federal em vender áreas da Amazônia.

Ilusão

Seja em âmbito estadual ou nacional, desde meados da década de 1990 a privatização tem sido propagada como benéfica para os consumidores por oferecer melhores preços e serviços. No caso do setor elétrico, tais vantagens não se comprovaram na prática, segundo análise do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo (Sinergia),  Edmar da Silva Feliciano.

“Isso é uma ilusão que o governo traz pra sociedade ao dizer que privatizar é melhor porque a tarifa será mais barata. É um engano. A privatização precariza não só a questão da energia em si para os consumidores, mas também as condições de trabalho”, afirmou. “Hoje se privatiza e a energia só aumenta. Então podemos ver, na prática, que privatizar não é sinônimo de baixar a energia.”

O presidente do Sinergia dá como exemplo o próprio estado de São Paulo, que iniciou o processo de privatização do setor há cerca de 20 anos e deveria, em tese, já ter colhido os frutos da mudança e apresentar um custo mais baixo nas tarifas. “Temos hoje uma das energias mais caras do país. Então, é pura ilusão. Por isso estamos fazendo essa frente parlamentar em defesa do setor elétrico, para que a gente possa discutir com a sociedade”, explicou Feliciano, destacando a importância em dialogar com a sociedade e mostrar que a privatização não é o melhor caminho. “Talvez se o governo investir mais no setor elétrico, aí sim teremos mais qualidade e uma energia mais barata.”

Presente ao ato de lançamento da Frente Parlamentar em Defesa do Setor Elétrico, em São Paulo, o deputado estadual Emidinho Madeira (PSB-MG) é o coordenador de uma frente semelhante, criada há 40 dias em Minas Gerais, com apoio de 63 deputados. “O governo está fazendo uma besteira muito grande em querer vender o setor elétrico. Não sabemos como ficará o preço da energia, vamos perder totalmente o controle. Vender o setor elétrico e o controle da água é andar na contramão do futuro”, afirmou.

O parlamentar mineiro, cuja origem é a região de Furnas, no sul do estado, disse que há 60 anos, quando a barragem foi construída, 500 mil hectares de terra ficaram embaixo d’água, desabrigando cerca de 33 mil famílias. “Na época já foi uma covardia muito grande e agora, depois de 60 anos, querem vender um patrimônio que não é deste governo, é do povo, e querem vender a preço de banana, está sendo dado”, criticou.

Veja reportagem da TVT sobre o lançamento da frente parlamentar: