ACIDENTE ANUNCIADO

Além da via que desabou em Brasília, há muitos outros trechos sem manutenção

Alerta feito em 2012 pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal aponta para diversos pontos sob mesmos riscos por falta de recursos para obras preventivas

Marcelo Camargo/Agência Brasil

Interdição da pista do Eixão deve durar seis meses

Brasília – Um relatório de quase seis anos atrás do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) já apontava necessidade de obras para manutenção preventiva de trecho do Eixo Rodoviário de Brasília. A ausência de manutenção está sendo apontada como responsável pelo processo de deterioração que leva a desmoronamentos como o da manhã desta terça-feira (5), em um trecho de duas pistas do chamado Eixão Sul, próximo ao terminal de ônibus da região central do Plano Piloto. 

O acidente abalou a vida da população e o funcionamento da cidade. Afetou a movimentação do Congresso e demais prédios da Esplanada dos Ministérios, fez lojas serem fechadas e instaurou um ambiente de tensão. Segundo técnicos de engenharia, tratou-se de uma tragédia anunciada que poderia ser evitado.

“Brasília refletiu, esta manhã, exatamente como está o Brasil”, disse, assustado, o servidor do Ministério da Saúde Ricardo Nogueira, ao saber da notícia e passar em frente ao local. O corpo de bombeiros, que ainda realiza buscas, não encontrou nenhuma vítima, mas um restaurante e dois carros foram destruídos. Não está descartada a possibilidade de virem a ser encontradas pessoas em meio aos escombros até o final do dia.

O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), confirmou que diante da falta de recursos não foi feita nenhuma obra no viaduto no último ano. Rollemberg, segundo informa o Correio Braziliense, disse que o governo vai traçar, a partir de hoje, um plano emergencial para manutenção do Eixão, lamentou o acontecido e reclamou do orçamento escasso.

Saiu de lá vaiado, embora os responsáveis pelas vaias reconhecessem que a falta de manutenção foi observada, também, nos governos de seus antecessores. “Ele é o governador, tem de responder, mas não foi o único culpado”, disse a vendedora Vera Santos.

Período de chuvas

O desmoronamento foi provocado, em grande parte, pelas fortes chuvas que caem em Brasília. Há o temor de que, com a previsão de continuidade das chuvas ao longo da semana, seja repetido em outros trechos. A pior preocupação dos técnicos diz respeito a seis construções públicas que também foram apontadas pelo mesmo relatório do TCDF como “edificações com necessidade de reparos urgentes”.

São estas, além do viaduto sobre a Galeria dos Estados (o que ruiu esta manhã), o que fica sobre a via S2, o viaduto sobre a via N2 (ao lado do Conjunto Nacional) e o estacionamento em frente ao mesmo shopping, a Ponte do Bragueto, no Lago Norte, o viaduto no Eixo L entre as quadras 203/204 Sul e o viaduto do Eixo L entre as quadras 215/216 Sul.

Para o presidente do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape), Wilson Lang, o aviso não partiu apenas do TCDF. Segundo ele, diversos relatórios vinham, há anos, avisando às autoridades sobre a precariedade da estrutura do trecho que ruiu. Também o professor de engenharia da Universidade de Brasília (UnB) Dickran Berberian, disse que apesar de na cidade serem observadas bem menos situações de desmoronamento de obras que no restante do país, há anos Brasília não é mais a mesma, devido à demora do poder público para realizar serviços básicos.

Responsabilidade enorme 

“Tanto aqui, como no mundo inteiro é preciso fazer manutenção. Esse viaduto carrega uma responsabilidade enorme, pela quantidade de veículos que suporta diariamente. Desde 2009 um grupo de trabalho vinha fazendo estudos sobre essas estruturas e mostrando ao governo a necessidade de se ter verbas garantidas para a recuperação delas”, afirmou.

No domingo, a estrutura do estacionamento de um prédio na quadra SQN 210, localizado na Asa Norte, também desabou. O laudo dos engenheiros, nesse caso, identificou vários fatores para o acidente, como a idade da edificação, rachaduras, infiltrações não vistas antes e falta de manutenção.

A presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do (Crea-DF), Fátima Có, disse em entrevista ao Correio que quando se fala em questão de vistorias constantes, não existe uma legislação específica para o assunto, “até mesmo porque Brasília ainda é considerada uma cidade nova e não tem registros constantes de acidentes assim”. Ela destacou a importância de serem realizados mais laudos de fiscalização tanto de prédios como de obras públicas.

De acordo com o diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) Henrique Luduvice, o governo está tomando as providências, por meio da coordenação de vários órgãos, como o próprio DER, a Companhia de  Urbanização (Novacap) e a Secretaria de Infraestrutura do DF. “Trabalharemos de forma articulada, primeiramente no escoramento desse viaduto, a análise da estrutura”, explicou.

Os bombeiros continuam no local e o Detran está fazendo o desvio de tráfego nas redondezas para que o acesso ao centro do Plano Piloto, Esplanada dos Ministérios e o acesso a entrada e saída dos ministérios seja feito por outras vias.