recuperação lenta

Para economistas, sair da crise está longe e custará menos e piores empregos

Apesar de índices comemorados pelo governo, recessão ainda avança e atinge fortemente o setor de serviços, entre outros. Com reformas de Temer, retomada deverá ocorrer com menos empregos e precarizados

Arquivo/EBC

Queda no setor de serviço demonstra que a crise econômica segue se alastrando

São Paulo – O crescimento de 1,12% no primeiro trimestre, de acordo com o  Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) divulgado nesta segunda-feira (15), somado à queda da inflação são comemorados pelo governo como indicativos de melhora no cenário econômico. Mas economistas ouvidos pela repórter Vanessa Nakasato, para o Seu Jornal, da TVTadvertem que a efetiva superação da crise pode ser um processo de pelo menos uma década, desde a sua eclosão, em 2014, e com acentuada piora na qualidade dos empregos. 

Segundo o diretor-técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, a economia brasileira chegou ao fundo do poço em 2017 e a política econômica do governo Temer, que corta gastos públicos na expectativa de atrair capital estrangeiro, é um dos motivos para a lenta recuperação. 

“Nós começaremos a sair desta crise lentamente. A expectativa, em um cenário otimista, é um crescimento econômico de 0,5% em 2017, depois de ter caído mais de 7% nos últimos anos. Isso significa que, entre o começo da crise e a saída de fato serão quase 10 anos. Temos ainda de cinco a seis anos pela frente para recuperar o que nós perdemos e voltarmos a ter o mesmo patamar de emprego e de salários de dez anos atrás”, detalha Clemente.

Para o professor Guilherme Mello, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), outros indicadores econômicos contradizem a expectativa do governo de superação da crise. Dados do IBGE mostram que, em março deste ano, o setor de serviços teve queda de 2,3%, a maior desde 2012, o que, segundo Mello, demonstra que a crise ainda se alastra, em vez de ser contida, como o governo tenta fazer crer. 

“Pessoas que demandavam esses serviços não estão mais demandando. A crise começa com uma queda no investimento, que depois atinge a indústria. Atinge depois o consumo das famílias, porque leva ao desemprego, e agora, finalmente atinge, o setor de serviços, mostrando que a crise continua se espalhando pelo tecido econômico, em vez de se observar a tão propalada recuperação”, analisa o professor. 

Ambos concordam que as reformas trabalhista e da Previdência apresentadas como a salvação da economia vão resultar em empregos ruins. Clemente afirma que a possibilidade mais provável é que o país sairá da crise em um menor patamar de emprego, e grande parte deles precarizados, com perdas de direitos. 

Guilherme Mello aponta ainda que os retrocessos promovidos pelo governo Temer faz parte da sua estratégia econômica. “A estratégia de Temer é tirar direitos, tirar renda do trabalhador, esperando que com isso o empresário vá investir mais, produzir mais, porque estaria mais barato para produzir.”