Três centavos

FUP critica política de preços e Luiz Gonzaga Belluzzo, venda de ativos da Petrobras

Segundo economista, estatal enfrenta situação desfavorável com perda de mercado sob Temer. Para petroleiros, redução de preço deixa empresa mais vulnerável a fatores externos

Eduardo Maretti

Com maior rede de postos do país, estatal atua também em outro países, como na Argentina (foto)

São Paulo – A queda de R$ 0,03 por litro de gasolina, anunciada há três dias e objeto de manchetes em toda a mídia, deve ser analisada sob dois aspectos, de acordo com o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel. “O primeiro é que, apesar de a imprensa ter feito estardalhaço como se fosse uma bondade, eles reduziram porque a Petrobras estava perdendo mercado e as outras distribuidoras estão indo ao exterior, já que o combustível lá fora está mais barato”, diz.

O dirigente considera “suicida” a política de preços aprovada no governo Michel Temer. “Qualquer suspiro que acontecer lá fora, o brasileiro vai pagar a conta. Com essa política, nos anos 90 o combustível teve reajuste de cerca de 350%. Se acontecerem turbulências ou mesmo uma guerra, e o preço disparar, eles vão aumentar na mesma proporção no mercado interno”, prevê Rangel. “Essa decisão da diretoria soa como se fosse para abafar o pacote de maldades trazidas pela PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 241, a reforma da Previdência, a entrega do pré-sal.”

Para o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, diante da situação internacional do mercado os preços em vigor não se justificavam mais. “Quem está importando quer colocar a gasolina mais barata na bomba e há diferenças grandes na venda na bomba. A Petrobras está perdendo mercado e a situação é desfavorável à empresa.”

Além disso, avalia, os atuais responsáveis pela área econômica do governo estão inseguros a respeito dos efeitos do pacote fiscal. “Isso (a queda do preço) foi feito para ajudar na queda da inflação, e vai ajudar. Eles querem melhorar as expectativas de redução da taxa de juros. Querem configurar uma situação em que é conveniente baixar a taxa de juros”, diz Belluzzo.

Na sexta-feira, a Petrobras anunciou sua nova política de preços tendo como base a paridade com o mercado internacional. “A primeira avaliação feita pelo grupo executivo indicou a necessidade de reduzir o diesel em 2,7% e a gasolina em 3,2% na refinaria”, informou a companhia.

De acordo com a FUP, nos anos 1990 a gasolina brasileira chegou a ser cotada entre as 20 mais caras do mundo. Entre 1995 e 2002, com reajustes de 350%, a média foi de 44% ao ano. De 2003 a 2015, o reajuste foi de 45% e a média, de 3,75% ao ano.

Em nota, a FUP alerta que a nova política não garante estabilidade. “E, portanto, voltará a penalizar a sociedade com a variação dos preços no mercado externo.” A principal justificativa da direção da Petrobras é de que o crescente volume de importações reduz a participação da empresa no mercado de distribuição: “Se de fato a gestão da companhia estivesse preocupada com a perda de mercado, não abriria mão da BR Distribuidora, uma de suas mais lucrativas subsidiárias, cuja compra está sendo disputada por segmentos que vão das Lojas Americanas ao Itaú, tamanha a vantagem do negócio”, diz o texto.

Segundo Rangel, a política que estava em vigor até 2011, quando a presidenta Dilma Rousseff determinou a suspensão dos reajustes, era “razoável”. Até 2003, a Petrobras reajustava seus preços mensalmente. Então, passou a exercer uma política de preços para cuja composição considerava tanto o mercado externo quanto o interno, “preservando os interesses nacionais e as necessidades da população”, afirma a FUP.

Mas, a partir de 2011, o governo Dilma mudou a política e segurou os preços. Isso gerou uma perda de receita equivalente a R$ 60 bilhões. Para compensar o que deixou de arrecadar no período, mesmo com a violenta queda do preço do barril de petróleo, a companhia manteve os preços que vinha praticando. “E justamente agora, quando os preços do barril começam a subir e os analistas internacionais apontam uma recuperação gradual da commodity, a Petrobras volta a praticar a paridade de preços com o mercado internacional sem estabelecer mecanismos de proteção para o consumidor”, diz a federação.

Venda de ativos

A outra questão que vem chamando a atenção do mercado mundial relativamente à Petrobras, no Brasil de Michel Temer, é a venda de ativos da estatal. A intenção da direção de Pedro Parente é vender o controle acionário da BR Distribuidora, a seção da companhia, que, de acordo com a FUP, é a que gera receita à companhia. A BR Distribuidora teve uma receita de R$ 118 bilhões em 2015, segundo estimativas. Tem ainda a maior rede de postos de combustíveis do país, 7.500.

“A venda de ativos é um equívoco”, diz Belluzzo. “A maior parte das empresas estatais de petróleo têm integração vertical, isto é, abrangem da pesquisa à extração e produção até refino e venda. A Statoil (da Noruega) é assim. É uma ironia”, acrescenta o economista. Belluzzo se refere ao fato de que a companhia norueguesa, estatal, foi a que arrematou o campo de Carcará, na Bacia de Santos, por US$ 2,5 bilhões.