Análise

Cepal: contração econômica faz crescer o desemprego e cair a renda

Relatório divulgado hoje aponta influência do Brasil nos indicadores negativos da América do Sul

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São Paulo – A retração da economia na região afeta negativamente o emprego e a renda, fazendo a taxa média de desemprego atingir 9,2% no primeiro semestre, ante 7,6% em igual período de 2015, aponta a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), em relatório divulgado hoje (19) em conjunto com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), durante seminário em Santiago. “Ainda que esse desempenho negativo esteja fortemente influenciado pelo Brasil, todos os outros países da América do Sul com informação disponível, exceto o Peru, também tiveram aumentos em sua taxa de desemprego”, afirmam a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, e o diretor regional da OIT, José Manuel Salazar.

Segundo o informe, o Produto Interno Bruto (PIB) da região recuará 0,9% este ano. A taxa de desemprego deverá atingir 8,6%, ante 7,4% no ano passado e 7% em 2014. Seria a maior desde 2009 (9,2%).

Entre os países, o Brasil aparece com taxa média de desemprego de 12,4% no primeiro semestre, abaixo apenas de Bahamas (12,7%). Fica bem acima da média de igual período do ano passado, 8,9%. A taxa também sobe em países como Argentina, Chile, Colômbia, Equador e Uruguai, recuando no México.

“Por trás dos dados regionais, escondem-se importantes heterogeneidades. Na primeira metade de 2016 foram marcantes as diferenças a respeito da evolução da taxa de desemprego urbano entre as sub-regiões de América Latina e Caribe”, diz o relatório. “Cabe assinar que o maior aumento do desemprego se verificou no Brasil (mais de 3 pontos percentuais). Tendo em conta o peso desse país na medição regional, é óbvio que houve grande impacto na taxa correspondente à América Latina e ao Caribe em seu conjunto.”

O emprego assalariado recuou 0,4% na primeira metade do ano, com influência, mais uma vez, do Brasil, além da Venezuela. “Apesar disso, entre os dez países com informação disponível a respeito, ainda que prevalecessem situações de fraca demanda trabalhista, essa contração não foi generalizada”, apontam Cepal e OIT. “Por outro lado, a expansão do trabalho por conta própria foi um fenômeno mais generalizado”, acrescentam as entidades, citando alta de 3,6%.

De acordo com o informe, houve fraco crescimento do emprego concentrado no setor terciário (comércio e serviços), enquanto a manufatura (indústria) teve forte contração. Na agropecuária também houve redução, com menos intensidade. “Na maioria dos países também se contraiu o emprego na construção, como reflexo do enfraquecimento da demanda interna”, dizem as entidades, ressalvando, nesse último item, “importante aumento” registrado no México.

O relatório destaca ainda a influência negativa da economia sobre a renda. Em alguns países, como Chile, México, Nicarágua e Uruguai, houve altas em torno de 1% na comparação anual. “Por outro lado, no Brasil e na Colômbia (indústria manufatureira) os salários caíram em termos reais, com magnitude entre 1,5% e 4%, respectivamente, em um contexto de aumento da inflação em ambos os países, acompanhado de marcante contração da demanda trabalhista no caso do Brasil.”