Fazenda

‘Governo Temer tentará esconder o que vai fazer com bancos públicos’, diz Mattoso

'Eles precisam dessas instituições. Não vão fazer nenhuma loucura imediata', diz ex-presidente da Caixa Econômica Federal no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva

PR/divulgação

Minha Casa MInha Vida, além de impacto no déficit habitacional, movimentou um dos setores que mais emprega

São Paulo – Na primeira entrevista coletiva como ministro da Fazenda, Henrique Meirelles disse ontem (13) que os bancos públicos “serão avaliados com critérios técnicos e serão adotadas políticas com sua finalidade básica, que é emprestar e transformar a poupança em investimentos”. A “previsão” não revela a questão que todos querem saber: qual será a política do novo governo para os bancos públicos, em especial a Caixa Econômica Federal?

Para Jorge Mattoso, professor aposentado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-presidente da Caixa Econômica Federal no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles “falou de questões genéricas das quais ninguém pode discordar”. “Até porque, bancos públicos ou privados têm mesmo de conseguir recursos para emprestar, é a função do banco. Mas os bancos públicos têm outra função. No caso da Caixa, é um banco que favorece políticas públicas, como Minha Casa Minha Vida e outras”, diz.

“Vai ser um governo conservador, mas eles vão tentar, em todos os momentos, fazer um jogo de esconder o que efetivamente vão fazer, porque ainda vai haver o julgamento do impeachment de Dilma no Senado, e eles querem evitar perder apoios. Vão tentar disfarçar”, avalia o ex-presidente da Caixa.

Mattoso calcula, porém, que o governo Temer “tem uma grande vantagem, porque a economia já dá sinais de melhora, graças às políticas da Dilma”. Para ele, esse fator é revelado pela expectativa do mercado de redução dos juros e de queda da inflação, além das exportações em crescimento graças à desvalorização do real, terem permitido uma melhora do setor industrial, produtivo e exportador. “Há um quadro que não é igual ao que era há dois meses, seis meses atrás”, diz.

O mercado prevê queda de 0,5 ponto percentual (para 13,75%) na taxa Selic até o fim deste ano. A estimativa do IPCA também vem se reduzindo. Caiu de 7,59%, em 4 de março, para 7% em 6 de maio. “Não estou dizendo que estava tudo resolvido (no governo Dilma) e o Brasil passou a crescer. Mas há um processo de reversão e o governo Temer vai tentar capturar isso como se fosse uma coisa dele”.

Em dezembro de 2014, dados do Banco Central mostravam que a Caixa Econômica Federal havia chegado ao posto de terceiro maior banco do país em ativos (R$ 1,064 trilhão), atrás de outra instituição do Estado, o Banco do Brasil (R$ 1,4 tri), e Itaú (R$ 1,12 tri).

Nos governos do PT, a Caixa foi responsável por executar os programas Minha Casa Minha Vida, além de essencial para o Programa de Aceleração do Crescimento e para o enfrentamento da crise internacional que explodiu em 2008, ao manter as linhas de crédito que os bancos comerciais restringiram drasticamente.

Para Mattoso, portanto, não se pode dizer, no momento, quais as intenções do governo Temer quanto aos bancos públicos, especialmente a Caixa. “Eles precisam dessas instituições. Não vão fazer nenhuma loucura imediata, embora eu tenha visto uma entrevista com o supostamente indicado para a presidência da Caixa, Gilberto Occhi, no Estadão, em que ele defende a abertura do capital de três áreas do banco: seguro, loterias e cartões. “A abertura total do capital da Caixa seria um segundo passo”, disse Occhi na entrevista, publicada no dia 11. “Isso é uma forma de privatizar ou pelo menos reduzir a participação pública”, diz Mattoso.

Occhi, do PP, entregou o cargo de ministro da Integração Nacional em 13 de abril de 2016, quatro dias antes da votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados.

BNDES

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também desempenhou papel fundamental no enfrentamento da crise mundial de 2008. Matéria da RBAde agosto de 2010 mostrava que, em 2000, a instituição financeira desembolsou R$ 23,3 bilhões para novos investimentos. Em 2009, o investimento chegou a R$ 137 bilhões.

“Os projetos de valor estratégico são, por exemplo, os incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em 2008, metade dos projetos contratados junto ao setor de infraestrutura do BNDES pertenciam ao PAC”, registrou a reportagem. “Em 2008, a instituição foi responsável por 14,2% do investimento na economia brasileira, contra 8,7% em 2000.”

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