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Cortes radicais podem exacerbar conflitos, alerta economista da UnB

'Quem é que vai pagar o preço desse ajuste?', pergunta Roberto Piscitelli, que aponta estreita margem de manobra do governo interino em promover cortes sem causar danos aos mais vulneráveis

arquivo/EBC

Retorno do crescimento e do emprego depende da retomada do investimento do setor privado e do Estado

São Paulo – Para o professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli, a partir do afastamento de Dilma Rousseff e da interinidade de Michel Temer, o grande problema do país, a ser resolvido no curto prazo, é a queda da arrecadação por conta da retração da atividade econômica. Para isso, o governo Temer deverá fazer novo ajuste fiscal e arcar com reformas, mas conta com pouca margem de manobra. “Nesse momento, é preciso definir quem paga o custo do ajuste, sobre quem vai recair, que tipo de reforma vai ser feita e qual o efeito que ela pode ter a curto prazo”, afirma o professor, em entrevista na manhã de hoje (12) ao Jornal Nacional Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC) em parceria com a Rádio Brasil Atual.

Piscitelli aponta que as metas de reajuste fiscal devem ser fixadas em um horizonte de médio ou longo prazo, de modo a evitar medidas drásticas. Segundo ele, as propostas de imposição de cortes mais radicais, que circulam nos meios políticos e econômicos, “vão exacerbar a movimentação de diversos segmentos sociais” e “gerar muitos conflitos”. Por outro lado, diz o professor, com posturas mais cautelosas, o governo interino pode desagradar os setores que apoiaram o golpe, o que configura um “equilíbrio difícil de se sustentar”.

O professor afirma que o atual quadro econômico internacional não ajuda, e pode, inclusive, piorar ainda mais, por conta da desaceleração chinesa, o arrefecimento americano e a estagnação europeia.

“Não são problemas que se solucionem a curto prazo. Na própria fixação das metas, tem que haver uma certa tolerância, no sentido de não se pretender fazer um ajuste a qualquer preço, a curto prazo, com a pretensão, por exemplo, de que se possam alcançar superávits primários a curto prazo. Me parece inviável, sob pena de impor à sociedade um sacrifício insuportável”, afirma Piscitelli.

Para o economista, o problema mais sério tem a ver com a necessidade da retomada do emprego. Para tanto, ele aponta a necessidade da retomada do investimento que, por sua vez, depende da disposição e da retomada de confiança por parte dos agentes econômicos privados e também da realização de investimentos por parte do Estado, principalmente em infraestrutura.

Piscitelli diz ser fundamental a manutenção dos programas sociais, para garantir a sobrevivência dos setores mais vulneráveis da população, que sofrem mais com o desemprego, bem como manter padrões mínimos de consumo que estimulem o crescimento.