efeitos do impeachment

Se aprofundar ajuste fiscal, Temer vai depreciar ainda mais a economia

Economista Antonio Corrêa de Lacerda avalia que ajuste só pode se aprofundar depois que o país sair da recessão. Ele também é contra a suspensão da vinculação orçamentária para saúde e educação

Box Mídia (Alessandro Fadini)

Lacerda sobre ‘Uma ponte para o futuro’: programa enfrentará muitas resistências se vier a ser executado

São Paulo – O aprofundamento do ajuste fiscal, pretendido por um eventual governo do vice-presidente Michel Temer frente à possibilidade de aprovação do processo de impeachment pelo Senado, o que levaria ao afastamento da presidenta Dilma Rousseff por seis meses, não deve ter impacto positivo na economia. A opinião é do economista e professor da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP) Antonio Corrêa de Lacerda.

“Com a economia em recessão, se você tentar fazer o ajuste fiscal é muito complicado. Eu começaria por uma recuperação da economia para depois fazer o ajuste. Tentar fazer o ajuste com a economia em recessão não dá certo”, afirma Lacerda. “Não daria para aprofundar o ajuste, porque se você tentar fazer isso, o ajuste não vai se configurar, porque ele vai depreciar ainda mais a economia e evidentemente o resultado tende a não ser favorável.”

Lacerda também é contra a suspensão da vinculações orçamentárias para as despesas de saúde e educação, como pretende Temer, segundo seu programa para a economia, lançado em novembro do ano passado e que foi batizado de Uma Ponte para o Futuro. “Eu sou contra a suspensão porque é um instrumento para garantia dos direitos sociais”, afirma. Segundo ele, o programa combina uma visão liberal da economia com uma visão conservadora na área de benefícios sociais. “Não está claro se esse é o programa que ele quer implementar. É um programa que enfrentará muitas resistências se ele vier a ser executado.”

O economista também é contra as reformas da Previdência e tributária, que eventualmente Temer pode desencadear para atender às expectativas do mercado financeiro. “São necessárias, mas não da forma como está sendo colocado. É preciso fazer um amplo debate com dados mais transparentes sobre o que se pretende realizar”, defende.

O professor ressalta que o andamento do processo no Senado pode reverter as expectativas criadas pela expressiva votação na Câmara neste domingo e por isso acha ainda “prematuro” especular sobre a ação de Temer na economia. “Primeiro não sabemos se o impeachment vai passar no Senado, é um tanto prematuro especular sobre o governo Temer, mas o que eu considero deste governo, por enquanto, é uma incerteza muito grande de qual vai ser a política econômica”, afirmou.