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Importância de Davos é mais simbólica do que prática, diz analista

Segundo Luis Fernando Ayerbe, do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp, país precisa mostrar a investidores sua versão da economia, mas encontro na Suíça não deve ser superestimado

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De acordo com analista, o fórum tem significados diferentes para os países, especialmente da América do Sul

São Paulo – O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, participa, entre hoje (20) e sábado (23), de reuniões com executivos de multinacionais, investidores e representantes do chamado mercado no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O encontro anual, realizado no inverno europeu, é repleto de reuniões de caráter informal e tem um significado mais simbólico do que prático, na opinião do coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Luis Fernando Ayerbe. Mais do que isso, o fórum tem significados diferentes para os países, especialmente da América do Sul.

“A importância não é tanto por um lado concreto, é mais simbólico. Ou seja, (na atual conjuntura) o governo brasileiro precisa explicar a sua versão da crise, na medida em que ele está sendo observado internacionalmente como um país que tem muitos problemas e é muito criticado por setores liberais, em publicações como The Economist, The Wall Street Journal, Financial Times. Cria-se uma ideia de que o Brasil de repente está numa situação que coloca em risco até a região (sul-americana)”, diz. “Do ponto de vista do governo brasileiro, Davos é importante não porque vai trazer investimentos de imediato, e sim para mostrar o seu lado e sua versão dos fatos, frente àqueles que são o establishment, de que a economia não está tão ruim como é colocado.”

Ayerbe compara a conjuntura de Brasil, Argentina e Bolívia para dizer que o Fórum Econômico Mundial não tem, hoje, a mesma importância para os três países. A Argentina, por exemplo, que ficou 12 anos sem enviar o presidente da República (Néstor ou Cristina Kirchner), será representada no evento pelo presidente Maurício Macri, neoliberal identificado com os anseios do mercado e o establishment. “No caso da Argentina, agora com Macri, que tem uma linha muito diferente de Cristina Kirchner, há esse discurso de que a Argentina é um país que agora volta ao mundo, como se dissessem: ‘vou encontrar aqueles que são a minha referência do que é o desenvolvimento’.”

Em outras palavras, explica o professor da Unesp, para o Brasil de Dilma Rousseff, ir a Davos hoje, representado por seu ministro da Fazenda, é importante porque, apesar da crise econômica, o governo pode mostrar sua versão aos investidores de que há muitas oportunidades de investimento. “Acho que é isso que o ministro Barbosa vai fazer. No caso da Argentina, seria para mostrar que ela estava fora e agora está de ‘volta ao mundo’. Já se você pega a Bolívia, por exemplo, o governo Evo Morales não está passando pelas dificuldades por que passa o Brasil.”

Seja como for, Ayerbe não recomenda supervalorizar o fórum de Davos. “Não tem de dar tanta importância para esse encontro, porque ele é bom para fazer contatos, reuniões informais, mas não é definitivo para nada, é apenas um momento de discussão sobre os rumos da economia e da política.”

O ministro Nelson Barbosa tem várias reuniões durante o fórum. Sua agenda previa para hoje a participação de almoço, promovido pelo Itaú, cujo tema é a perspectiva para a América Latina em 2016. Ele também se reuniria com presidente do Lloyds (instituição financeira de Londres), John Nelson. A agenda de Nelson Barbosa também inclui um encontro com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde.

Amanhã (21), Barbosa se reúne com executivos no Business Interaction Group on Brazil e de sessão transmitida pela internet sobre alternativas para recolocar a economia mundial no rumo do crescimento.