Setor elétrico

Após ocupar ministério, manifestantes se reunirão com governo

No encontro, marcado para a próxima terça-feira (19), no Palácio do Planalto, CUT, CTB e movimentos sociais vão exigir que estatais de energia elétrica não sejam entregues para a iniciativa privada

Valter Campanato/ Agência Brasil

Jovens se acorrentam no Ministério de Minas e Energia para exigir fim da privatização das distribuidoras de energia

São Paulo – Pelo menos 2 mil pessoas participaram hoje (12) de uma série de atos em Brasília contra a privatização de empresas de energia elétrica. Houve ocupação do Ministério de Minas e Energia e da sede das Centrais Elétricas de Goiás (Celg), localizada na capital do estado. Após pressão, os ministros da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, e da Casa Civil, Jaques Wagner, receberão os manifestantes para uma reunião, na próxima terça-feira (19), no Palácio do Planalto.

Militantes de movimentos sociais permaneceram por horas acorrentados a móveis do Ministério de Minas e Energia, antes de serem atendidos pelo ministro interino da Secretaria de Governo, Luiz Azevedo, que se comprometeu com a reunião. Após a assinatura de uma ata que oficializa o encontro, os prédios foram desocupados, porém a polícia chegou a ser acionada.

Durante o dia, os manifestantes se dividiram em outros três atos: um em frente ao Palácio do Planalto e outros dois em rodovias federais, que fecharam o tráfego na BR-153, na altura do município de Ceres, e na BR-060, em Rio Verde de Goiás.

“Vemos essa reunião com esperança, porque o governo federal mostrou sensibilidade com nossa manifestação contrária a privatização das elétricas. Mas só vamos conseguir ter uma ideia mais clara após a reunião com os titulares das pastas. Nós exigimos o fim das privatizações no setor elétrico. Não tem negociação e não tem alternativa”, afirmou o representante dos empregados da Celg, Wagner Alves Vilela Júnior.

Participaram do ato membros da CUT de Goiás e militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), do Movimento Camponês Popular (MCP), do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo.

Histórico

O governo federal aprovou a privatização das Centrais Elétricas de Goiás em 28 de dezembro. A Eletrobras – que é dona de 51% das ações de distribuição de energia no estado – poderá vender os ativos da empresa em um leilão, que será promovido pela BM&F Bovespa no final de janeiro. Em junho de 2015, a Assembleia Legislativa já havia autorizado a venda de outros 49% de ações da empresa, que são do estado goiano.

A parte da Eletrobras nas Centrais Elétricas de Goiás foi fixada em R$ 1,403 bilhão e o preço mínimo total da empresa, em R$ 2,750 bilhões. No entanto, o valor estimado da empresa é de pelo menos R$ 6 bilhões. A Eletrobras precisará de uma capitalização de R$ 3,3 bilhões neste ano para atender metas estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e não perder a concessão.

Outras seis distribuidoras de energia estatais também poderão passar para a iniciativa privada, nos estados de Alagoas, Piauí, Acre, Rondônia, Roraima e Amazonas. A decisão sobre a privatização destas estatais foi adiada, em dezembro, pela própria Eletrobras.

Sindicatos e movimentos sociais consideram equivocada a estratégia adotada pelo governo federal para solucionar o problema das elétricas. “As distribuidoras de energia elétrica do sistema Eletrobras são fundamentais para o desenvolvimento regional. Se forem entregues à iniciativa privada, o resultado será o desemprego, as tarifas elevadas, o aprofundamento da terceirização, além da redução da qualidade dos serviços”, afirma o dirigente do Sindicato dos Urbanitários do Distrito Federal (Stiu-DF) Sidney Lucena.

Como alternativa, os movimentos sociais propõem a criação de uma holding de distribuição de energia vinculada diretamente ao Ministério de Minas e Energia. “Com essa holding seria possível unificar todas as distribuidoras de energia elétrica do sistema Eletrobras, com a possibilidade de melhor fiscalização de recursos. Além disso, se uma distribuidora lucra e outra tem déficit, seria possível organizar a verba para balancear os caixas”, explica o presidente da CUT de Goiás, Mauro Rubem Menezes Jonas. “As distribuidoras de energia elétrica são rentáveis, o problema é que o lucro que deveria ser investido em melhorias para a própria empresa é usado em outros lugares.”

A Eletrobras cobre uma área correspondente a 31% do território brasileiro e distribui energia elétrica a mais de 6,6 milhões de pessoas. Atualmente, participam do sistema a Companhia Energética do Piaui (Cepisa), a Companhia Energética de Alagoas (Ceal), a Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre), as Centrais Elétricas de Rondônia (Ceron), a Boa Vista Energia e a Amazonas Distribuidora de Energia, além das Centrais Elétricas de Goiás.