Debate

Brasil sofre com falta de projeto de nação, afirma economista

Em debate, enquanto professor ligado ao setor produtivo criticou juros e falta de planejamento, especialista vindo da área financeira pediu mais liberalização, inclusive na legislação trabalhista

reprodução/yt

Lacerda: “O planejamento foi para o ralo em função do curtíssimo prazo”

São Paulo – Um debate realizado hoje (15) sobre rumos da economia brasileira revelou diferentes linhas de pensamento sobre o que deve ser feito para sair da rota de crise profunda e tentar voltar a crescer. Enquanto o professor Antonio Corrêa de Lacerda, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, ligado ao setor produtivo, falou em redução de juros (no curto prazo) e planejamento, o também economista Roberto Luís Troster, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), oriundo do sistema financeiro, defendeu maior liberalização, inclusive na legislação trabalhista.

Lacerda criticou o que chama de “financeirização” da economia e apontou certa “preguiça” no debate sobre essa questão, inclusive na mídia. “Há predominância das finanças globalizadas sobre a produção. Produzir no Brasil se tornou algo menor, desvalorizado, e o Brasil se tornou um cassino financeiro”, afirmou o economista. “O planejamento foi para o ralo em função do curtíssimo prazo. Nós padecemos de um problema estrutural, que é a falta de um projeto de nação, que aponte o que queremos ser.”

Para ele, um dos erros da política econômica foi “entrar nessa grande especulação das taxas de juros”, que provoca uma sangria de recursos e derruba o nível de atividade, fazendo crescer a inadimplência e cair a arrecadação do governo. O economista também apontou fatores externos, como a desaceleração da economia chinesa, que derrubou os preços de commodities, como petróleo e minério.

“A saída para o Brasil é retomar o seu projeto de nação”, insistiu Lacerda, citando Sêneca, intelectual da época do Império Romano: para quem não sabe aonde ir, não há vento favorável. Ele avalia que o país perdeu a capacidade de planejar, de pensar políticas de Estado voltadas ao desenvolvimento industrial e à infraestrutura. Ao mesmo tempo, acrescenta, mazelas como estas também podem ser grandes oportunidades. “Precisa de mudança de foco.”

Ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Troster citou como paradigma o 9 de novembro de 1989, data da queda do Muro de Berlim, marco simbólico da queda de fronteiras mundiais. Nesse sentido, ele considera os apelos ao fortalecimento do mercado interno um “atraso” ou “lenga-lenga”. Para ele, enquanto a indústria pede proteção, subsídios, é preciso pensar em mercados globais.

Troster também criticou a “legislação trabalhista complicada” no país e a estrutura tributária brasileira, com diferentes legislações por estados e municípios. Segundo ele, o país tem ainda um sistema financeiro “desfuncional”, ainda da época da hiperinflação.

O debate, realizado na sede do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo, foi organizado também pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva, entidade que reúne aproximadamente 30 mil escritórios no país e que, segundo o seu presidente, José Roberto Bernasconi, já demitiu aproximadamente 50 mil profissionais neste ano. Ele afirmou que houve certa recuperação do setor  no início deste século, após décadas “perdidas”, mas agora “esses quadros estão sendo mais uma vez desmanchados”, com estados sem capacidade de investimento.

Bernasconi citou dificuldades causadas pela Operação Lava Jato, mas acrescentou que os problemas atingem também empresas de menor porte. Em São Paulo, informou que há aproximadamente 300 construtoras em processo de recuperação judicial. O setor sofre ainda com atrasos em repasses por parte do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e para obras do programa Minha Casa, Minha Vida.

 

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