marcio pochmann

Desvalorização cambial estimula criação de empregos na indústria

Para economista, com a nova relação cambial no país, produtos importados devem ser substituídos por nacionais, atraindo investimentos para o parque industrial brasileiro

Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

Moeda norte-americana rompeu a barreira histórica dos R$ 4 ontem (22): expectativa para indústria

São Paulo – O dólar comercial rompeu ontem (22) o teto de R$ 4 e chegou a R$ 4,06. O economista, professor e escritor Marcio Pochmann, em comentário hoje à Rádio Brasil Atual, analisou a situação da alta da moeda norte-americana, identificando os fatores internos e externos que influem no câmbio.

“Há uma orientação por parte do governo federal de estabelecer um novo patamar da nossa moeda com a moeda externa, especialmente o dólar. Isso acontece porque o Brasil vem há duas décadas tendo o real muito valorizado em relação ao dólar. E esta valorização tem efeitos positivos, porque permitiu combater a inflação, por exemplo, mas ao mesmo tempo foi deprimindo e tornando mais difícil a produção interna no Brasil”, afirmou.

O período de valorização do real fez com que parte do crescimento da economia fosse atendida por consumo com importações. E agora, segundo Pochmann, o governo da presidenta Dilma Rousseff  promove a desvalorização com o objetivo de melhorar as contas externas. No caso da balança comercial, os resultados já apareceram. “O Brasil vive atualmente uma situação de superávit nas contas comerciais – as nossas exportações estão maiores do que as importações, revertendo um quadro desfavorável que o país vinha registrando nos últimos anos”, disse.

Mas também há fatores que não são de controle do governo federal. Internacionalmente, há um movimento especulativo, especialmente em torno da possibilidade de o governo norte-americano aumentar a taxa de juros nos Estados Unidos. “E toda vez que há uma elevação da taxa, isso acaba provocando um deslocamento de recursos em dólar de outros países para serem aplicados nos Estados Unidos. Isso faz com que exista um movimento especulativo contra as moedas nacionais.”

Há ainda um terceiro fator, diz o economista, associado à situação da China, que vinha até há pouco tempo sendo o dínamo do crescimento mundial e registra de 2014 para cá sinais de fragilidade. “Há um certo desânimo na possibilidade de crescer em função da China, e isso também fomenta uma saída de recurso, de escassez de dólares, e portanto desvaloriza a nossa moeda.”

De maneira geral, os analistas dizem que há apenas efeitos negativos derivados da elevação do dólar em relação ao real, porque produtos importados tornam-se mais caros, e isso termina de alguma forma repassado para preços, e torna também as viagens internacionais de turismo mais difíceis. “Mas há um outro lado”, diz Pochmann, para quem “é adequado que o Brasil tenha essa desvalorização frente ao dólar”.

Pochmann acredita, inclusive, que o país já deveria estar com essa cotação há mais tempo, porque a valorização cambial tem sido muito desfavorável para o parque produtivo brasileiro. “Hoje nós temos uma indústria que responde por apenas 9% da produção, o país é cada vez mais dependente da importação e, nesse sentido, a desvalorização faz com que se estimule a produção interna.” Para o economista, a substituição de importados por produtos nacionais vai criar empregos e impacto no investimento das empresas. “É importante que a taxa de câmbio se mantenha nesse patamar, para estimular a produção que anteriormente vinha do exterior”, disse.

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