Fraudes na Fazenda

Senadores decidem pedir quebra de sigilos de presidente da Mitsubishi

Insatisfeitos com depoimento de Robert Rittscher, integrantes da CPI do Carf reclamam que apuração das multas pagas pela multinacional ajudará a desvendar detalhes sobre fraudes no órgão da Fazenda

Pedro França / Agência Senado

Rittscher (à esq.) não explicou dívida de R$ 266 milhões que teve sua cobrança reduzida para menos de R$ 1 milhão ao fim do processo

Brasília – Os senadores que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Carf – o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (órgão vinculado à Fazenda Nacional) – resolveram pedir a quebra dos sigilos telefônico e telemático do presidente da Mitsubishi no Brasil, Robert Rittscher. O executivo foi ouvido nesta quinta-feira (9) pela CPI, mas seu depoimento foi considerado insatisfatório para o desenrolar das investigações, conforme deixaram claro vários parlamentares. A multinacional teve uma dívida referente a autuação na Fazenda reduzida de R$ 266 milhões para R$ 1 milhão.

Ao longo do processo, a Mitsubishi utilizou os serviços da empresa de consultoria Marcondes & Mautoni, contratada para apresentar os recursos protocolados no conselho pedindo a revisão da multa. Mas a referida consultoria está sendo investigada pela Polícia Federal, por conta da chamada operação Zelotes, por envolvimento no esquema de propinas pagas a fiscais do Carf para fraudar os processos e reduzir as dívidas das empresas – num escândalo que pode chegar a perto de R$ 19 bilhões em valores que deixaram de ser pagos à Fazenda.

A multinacional repassou valores superiores a R$ 40 milhões para a consultoria, mas o executivo afirmou que o montante corresponde a serviços devidamente prestados para a Mitsubishi e que estão documentados (ficou de encaminhar os documentos à CPI). Em seu depoimento, Robert Rittscher negou qualquer irregularidade da sua empresa e afirmou que está prestando todos os esclarecimentos necessários de que tem conhecimento sobre o caso à Polícia Federal.

‘São insuficientes’

Para o presidente da comissão, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), as declarações de Rittscher não foram suficientes para as investigações. “É muito difícil acreditar que não houve um esquema criminoso envolvendo a Mitsubishi”, disse o parlamentar, ao acentuar que as investigações da multinacional, em especial, serão importantes para ajudar a desvendar vários detalhes do esquema como um todo. Por conta disso, Oliveira também pretende convocar o ex-presidente da multinacional, Paulo Ferraz, que antecedeu Rittscher no cargo.

A CPI também autorizou a convocação de outros dois executivos: Cristiano Kok, presidente do Conselho de Administração da Engevix Engenharia, e Jason Zhao, executivo-chefe (CEO) da Huawei do Brasil. Além do ex-presidente do Carf, Otacílio Cartaxo.

Os senadores autorizaram, ainda, a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Leonardo Manzan, Paulo Cortez, Adriana Ribeiro, Gegliane Pinto e Jorge Victor Rodrigues. Todos são suspeitos de integrar diretamente o esquema criminoso, ou como conselheiros do Carf ou como consultores, em ações que levavam à manipulação de julgamentos do conselho para reduzir as multas e autuações aplicadas às empresas.

Caso Ford

Já em relação à Ford, a investigação foi suspensa temporariamente pelos senadores, em razão de um ofício lido na sessão anterior da CPI, no qual a multinacional destacou que sofreu uma tentativa de achaque relacionada a um processo no Carf. O caso está sendo investigado.

A CPI do Carf tem a missão de apurar irregularidades no Carf, órgão envolvido na chamada Operação Zelotes, da Polícia Federal, e apura o pagamento de propinas a conselheiros para a realização de fraudes em dívidas das empresas com a Receita. A operação foi deflagrada em março passado por diversos órgãos federais de investigação, em conjunto com a PF, e constatou que grandes empresas vinham subornando integrantes do conselho para serem absolvidas de pagar impostos devidos (ou reduzir de forma significativa o valor a ser pago).

Entre os acusados de envolvimento, conforme as apurações iniciais, estão, além da Mitsubishi e da Ford, Grupo RBS (maior afiliado da Rede Globo), BR Foods, Camargo Corrêa, Petrobras e os bancos Santander, Bradesco, Safra, Bankboston e Pactual.


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