Seade/Dieese

Grande SP ‘ganha’ 394 mil desempregados e perde R$ 7 bi na economia

O aumento do desemprego na primeira metade de 2015 se deve, em grande parte, à entrada de pessoas à procura de trabalho, o que pressionou a taxa, à medida que o mercado não abriu vagas

ABr

Indústria de transformação: 67 mil postos de trabalho a menos, com queda de 4,2%; construção também recuou

São Paulo – Com alta contínua da taxa de desemprego, o que não se verificava desde os anos 1990, a região metropolitana de São Paulo fechou o primeiro semestre com 394 mil desempregados a mais, um crescimento de 36,7% sobre dezembro, segundo pesquisa da Fundação Seade e do Dieese, divulgada hoje (29) pela manhã. O coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian, estima que de janeiro a maio se perderam R$ 7 bilhões na economia, com a redução da ocupação e da renda. A taxa de desemprego de junho chegou a 13,2%, a maior para o mês desde 2009.

O aumento do desemprego na primeira metade de 2015 se deve, em grande parte, à entrada de pessoas à procura de trabalho, o que pressionou a taxa, à medida que o mercado não abriu vagas. Dos 394 mil desempregados a mais no semestre, 274 mil se referem ao número maior de pessoas na população economicamente ativa (PEA). As outras 120 mil são de postos de trabalho efetivamente fechados.

Desde o ano passado, a taxa de desemprego se mantinha baixa e relativamente estável devido à pequena entrada de pessoas no mercado. Agora, possivelmente em função da queda da renda familiar, mais pessoas estão procurando trabalho – a taxa de desemprego é de 7,1% entre chefes de domicílio e vai a 18% entre os demais membros da família. Na comparação com junho de 2014, a PEA cresceu 1,6%, o correspondente a um acréscimo de 179 mil pessoas. A ocupação caiu 0,5% – 53 mil vagas a menos. Com isso, o número de desempregados cresceu 18,8%, com mais 232 mil, para um total estimado em 1,467 milhão.

Se a comparação for feita com dezembro, é possível observar maior concentração do desemprego nestes seis últimos meses. A PEA cresce 2,5%, a ocupação recua 1,2% e o total de desempregados sobe 36,7%.

De acordo com a pesquisa, a taxa do mês subiu principalmente na cidade de São Paulo, atingindo 13,5%, um ponto percentual a mais em relação a maio e 2,9 pontos ante junho do ano passado. Ficou relativamente estável na região do ABC paulista (13%) e recuou no conjunto dos municípios da região metropolitana, à exceção da capital (12,8%).

O crescimento da taxa na capital – que concentra 55% da força de trabalho da região – pode ser creditado, principalmente, ao setor de serviços, que cortou 63 mil vagas de maio para junho (-1,1%). Na comparação com junho de 2014, o fechamento de postos de trabalho se concentra na indústria de transformação (menos 67 mil, queda de 4,2%) e na construção civil (menos 14 mil, recuo de 1,9%).

A ocupação em 12 meses cai continuamente desde o final do ano passado. O contingente de ocupados (9,644 milhões) está hoje na média de 2011. No setor industrial, os 1,533 milhão de ocupados representam o menor volume desde janeiro daquele ano. Segundo Loloian, é a primeira vez desde os anos 1990 que a ocupação no primeiro semestre cai todos os meses em relação ao anterior. Isso ocorreu em 1991, 1992 – anos de forte crise, durante o governo Collor – e em 1996, já no período FHC.

O economista também manifesta preocupação com a renda. Pela pesquisa, o rendimento médio dos ocupados (R$ 1.941) teve leve alta de abril para maio (0,7%), mas cai 6,5% em 12 meses. Nesse período, a massa de rendimentos se retrai em 4%. “A rotatividade está funcionando para reduzir os custos de mão de obra”, observa.

Ele não se mostra otimista quanto às perspectivas para o segundo semestre. “Não há muito sinal que indique reversão dessa tendência”, diz. O histórico da pesquisa indica crescimento da ocupação na segunda metade do ano. “Todos os segundos semestres sobem”, diz Loloian. “E em 2015? Nem o Levy sabe”, acrescenta, referindo-se ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Espero que pare de cair.”

Outras regiões

Além de São Paulo, a taxa de junho subiu na região metropolitana de Porto Alegre, para 8,5%. Nas demais áreas pesquisadas, houve estabilidade: Distrito Federal (14,2%), Fortaleza (7,9%), Recife (13,5%) e Salvador (18%).