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Em 12 meses, salários na Grande São Paulo ‘perdem’ R$ 1,9 bilhão

Rendimento médio caiu 8,8%. Maior número de pessoas à procura de trabalho é fator considerado normal – o problema, diz analista, é a ocupação não crescer, como deveria acontecer neste período

São Paulo – Além do aumento no desemprego em maio (a taxa foi a 12,9%), a pesquisa Seade-Dieese revela outro dado considerado preocupante pelo economista Alexandre Loloian: em um período de 12 meses, a massa salarial na região metropolitana de São Paulo encolheu em R$ 1,9 bilhão, para aproximadamente R$ 18,2 bilhões (retração de 9,3%). Isso ocorre em parte pela redução de ocupados, mas principalmente pela queda nos rendimentos médios, tanto dos ocupados (-8,8%) como dos assalariados (-7,2%). No mês (neste caso, de março para abril), o rendimento teve leve alta, de 0,6%.

“Temos uma redução do poder de compra, que é muito ruim em termos de perspectiva”, observa Loloian, coordenador de análise do Seade, alertando para o risco de um “círculo vicioso” na economia, com retração de estoques, vendas e, consequentemente, do emprego. Segundo ele, a queda no valor médio dos salários “provavelmente é o efeito da inflação, que está corroendo o poder de compra”.

Pelos dados da pesquisa, o rendimento médio cai mais entre trabalhadores autônomos (-14,9%), assalariados no setor de serviços (-12,1%) e com carteira assinada (-9%). No total de ocupados, a renda foi estimada em R$ 1.916 em abril, ante R$ 2.100 em igual mês do ano passado.

Já a taxa de desemprego atingiu 12,9% em maio, na quarta alta seguida. Na série histórica da pesquisa, iniciada em 1985, apenas em duas vezes (1990 e 1992) o índice havia aumentado em maio. “É um crescimento não esperado. É fora da curva, e se deve muito à conjuntura e à dificuldade que a gente está enfrentando”, comenta Loloian.

O número maior de pessoas à procura de trabalho pressiona a taxa, mas o economista lembra que esse é um comportamento normal para o período. “Neste início de ano sempre cresce. O problema é que a ocupação não está acompanhando”, diz o analista.

A variação em 12 meses do nível de ocupação cai desde novembro. Em relação a maio do ano passado, a população economicamente ativa (PEA) tem 161 pessoas a mais, crescimento de 1,5%, enquanto a região metropolitana está com menos 25 mil ocupados, queda de 0,3%. Na indústria de transformação, o número de ocupados (1,540 milhão) está no menor nível desde janeiro de 2011. Apenas o segmento metal-mecânico cai 15% em relação à média daquele ano.

O setor de serviços é o que segue segurando, em parte, o nível de emprego. Mas a variação de maio em relação a igual mês de 2014 foi mínima: 0,1% (5 mil a mais). Com 5,657 milhões, esse setor concentra 58% da ocupação na região metropolitana.

Mesmo com dados negativos, Loloian não vê motivo para “desespero”, embora identifique uma situação de incerteza. E aponta algumas interrogações. “Normalmente, em junho, julho, há retomada do nível de ocupação. É quando todo mundo está com seus cenários. A questão é que os cenários traçados não são favoráveis. Os cálculos ainda provavelmente vão ser conservadores, quando não reacionários”, observa.

Amanhã (25), o IBGE divulga o resultado de sua pesquisa de emprego, feita mensalmente em seis regiões metropolitanas. Os dados não são comparáveis aos do levantamento do Seade e do Dieese, mas também apontam tendência de crescimento do desemprego.