Jornada pela democracia

Ladislau Dowbor: o sistema financeiro trava a economia brasileira

Para professor, é preciso resgatar os recursos produtivos do país. Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC diz que 'muitos ganham sem trabalhar'

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Ladislaw Dowbor (5º da esquerda para a direita) participou do painel sobre conjuntura econômica da Jornada pela Democracia

São Paulo – O professor Ladislau Dowbor avalia que a aposta no mercado interno é a estratégia mais adequada para o Brasil, enquanto o sistema financeiro trava a economia. “Temos uma capacidade produtiva subutilizada”, afirmou, depois de participar de debate no início da tarde de hoje (12) como parte da chamada Jornada pela Democracia, que reuniu pensadores e movimentos para discutir o momento brasileiro e procurou fazer um contraponto a um dia de protestos contra o governo.

A TVT e a Rádio Brasil Atual transmitiram os debates ao vivo do início ao fim da jornada.

A opção pelo mercado interno não se esgota, diz Dowbor. “Há 100 milhões de pessoas que precisam ter acesso a mais consumo, em grande parte consumo coletivo. Rios limpos, saneamento básico, expansão da educação.”

Ele afirma que o país não está “parado”, mas enfrenta dificuldades para expandir o seu processo produtivo. Com a taxa básica de juros, por exemplo, o governo paga R$ 200 bilhões por ano a intermediários financeiros. No financiamento para pessoas físicas, mais da metade tem o mesmo destino. “Não vai para o produtor.” Outro caso é o do cartão de crédito: “O custo para o banco na transação é de dez centavos. Eles estão cobrando de 2% a 5%”, diz Dowbor. “O Brasil não pode andar com esse dreno financeiro”, acrescenta, citando Selic, crediários, cartões e taxas bancárias. A questão não é apenas local, lembra o professor. “Há US$ 520 bilhões em paraísos fiscais.”

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, é preciso fazer um debate no Brasil no sentido de que “para ganhar dinheiro, tem de trabalhar”. Segundo ele, “muitos ganham se trabalhar” no país. “Quem não trabalha são aqueles que desnacionalizam a economia brasileira entregando patrimônio”.

Ele defende uma política de desenvolvimento local, de conteúdo e tecnologia. Segundo Rafael, está em curso uma “disputa pela agenda econômica” do Brasil. “Ajustar as contas do governo é uma coisa que a gente vê com naturalidade. A questão está nas escolhas que são feitas”, diz o sindicalista, salientando a importância de se manter programas de inclusão social e uma política industrial. “Não podemos nos contentar com pautas defensivas”, afirma.

O dirigente também criticou a aprovação, na Câmara, do projeto sobre terceirização. “Uma indecência”, classificou, sugerindo a criação de um “terceirômetro”, a fim de medir as prováveis consequências da medida, como aumento do número de acidentes de trabalho, redução da renda e crescimento da rotatividade de mão de obra.