Copom

Quarta alta seguida leva juros a 12,75%, maior taxa desde 2008

Decisão foi novamente unânime e confirmou as previsões do mercado financeiro. Apenas nas três últimas reuniões, Selic subiu 1,5 ponto percentual. Em dois anos, 5,5 pontos

São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central mais uma vez confirmou as previsões do mercado e elevou a taxa básica de juros (Selic) em meio ponto percentual, para 12,75% ao ano. Foi a quarta alta seguida, levando os juros ao seu maior nível desde dezembro de 2008. Apenas nas três últimas reuniões, a taxa aumentou 1,5 ponto percentual. Em um intervalo de dois anos, teve acréscimo de 5,5 pontos.

A decisão foi, novamente, unânime e sem viés. Em nota divulgada na noite de hoje (4), logo depois do encerramento da reunião, o Copom informa que a decisão foi tomada “avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação”. Prevaleceu a preocupação com altas recentes do IPCA, que em janeiro ficou acima de 1% e no acumulado em 12 meses superou os 7%. A taxa de fevereiro sai nesta sexta-feira (6).

O novo aumento foi previsivelmente mal recebido pelo setor produtivo. Em nota, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que a alta “elevará os custos dos financiamentos, desestimulará os investimentos das empresas e inibirá o consumo das famílias”. Segundo a entidade, a medida “dificultará ainda mais a recuperação da economia e colocará em risco o emprego”. A CNI disse defender “um ajuste fiscal que dê  maior peso ao corte de gastos públicos do que ao aumento de impostos”.

Foi uma decisão “desastrosa”, diz em nota o presidente da Força Sindical, Miguel Torres. “Os insensíveis tecnocratas do Banco Central perderam, novamente, uma ótima oportunidade de afrouxar um pouco a corda que está estrangulando o setor produtivo, que é quem gera emprego e renda. Infelizmente, mais uma vez, o governo se curva diante dos especuladores. A decisão frustra a sociedade, que ansiava por uma queda na taxa básica de juros”, afirmou, criticando os “cavaleiros do apocalipse” da economia, que “dão as costas aos problemas da população e dos trabalhadores, ameaçados pela perda de seus empregos, e mantêm os juros nas alturas”.

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), a decisão é intolerável, “porque vai agravar a estagnação da economia e concentrar riqueza”, diz nota assinada pelo presidente da entidade, Carlos Cordeiro. “O novo aumento da taxa básica de juros é extremamente negativo para o país por várias razões. Em primeiro lugar, vai deprimir ainda mais a economia, cuja deterioração vem se agravando e já ameaça provocar desemprego”, afirma. “Além disso, vai sangrar o Tesouro Nacional com o aumento das despesas financeiras da dívida pública, esterilizando parte expressiva do ajuste que o governo tenta implementar. Recursos que deveriam ser investidos em políticas sociais para beneficiar toda a sociedade serão desviados para o bolso dos rentistas e do mercado financeiro.”

Ele comparou o processo às recentes medidas provisórias que limitam o acesso a benefícios sociais. “Com a Selic a 12,75%, o Tesouro Nacional transfere por ano aos rentistas R$ 240 bilhões, ou 5% do PIB. Somente com os aumentos pós-reeleição, esse seleto grupo embolsará R$ 17 bilhões anualmente, o mesmo valor que o governo pretende economizar com as mudanças no seguro-desemprego. É um mecanismo perverso de concentração de renda em um país que já é um dos 12 mais desiguais do mundo.”