Turismo

Com alta do dólar, brasileiros preferem as viagens no território nacional

Moeda acima de R$ 3 encarece compras no exterior, mas estimula a indústria nacional de turismo, que pode reverter déficit comercial de US$ 19 bilhões por ano, resguardando divisas

Arquivo: Ana Cláudia Guimarães

Foto de avião vazio para Nova York, na coluna de Ancelmo Góis: combustível para amplificar a crise no país

São Paulo – A coluna do jornalista Ancelmo Gois, no site do jornal O Globo, divulga hoje (11) foto enviada por uma leitora, que mostra um suposto voo da American Airlines, de São Paulo para Nova York, praticamente vazio. Embora os leitores tenham levantado suspeitas sobre a autenticidade da foto, sobretudo quanto ao fato de a imagem mostrar o voo 950, ontem à noite, partindo de Guarulhos, a intenção do colunista é revelar mais um lado da “crise” pela qual passa o país, com o dólar cotado a mais de R$ 3.

No que concerne à indústria do turismo no país, no entanto, o dólar alto é mais benéfico do que prejudicial. É o que disse hoje, em entrevista à RBA, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih), Enrico Fermi Torquato Fontes, que considera que o dólar em alta vai fazer com que as atenções do turista brasileiro se voltem ainda mais para o mercado interno. Ele lembra que a balança comercial do setor fechou 2014 com quase US$ 19 bilhões de déficit. “O turista internacional deixa aqui US$ 6 bilhões por ano, e nós estamos mandando US$ 25 bilhões por ano para fora; e aí fica essa diferença de US$ 19 bilhões, mas é preciso destacar que boa parte disso é gasta com compras”, afirma. Em outras palavras, os mais “prejudicados” pela alta do dólar são os endinheirados que procuram os destinos internacionais para fazer compras.

Hoje (11), o Ministério do Turismo divulgou a pesquisa Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem, em que confirma o crescimento da intenção do brasileiro de viajar no país nos próximos seis meses. “O levantamento mostra que a intenção de viajar pelo Brasil aumentou de 67,8% em fevereiro de 2014 para 73,2% este ano. O mercado interno continua sendo a principal alavanca para o setor turístico no Brasil”, disse o ministro do Turismo, Vinicius Lages.

Do ponto de vista da economia no setor de turismo a valorização da moeda americana é bem-vinda, sem que isso signifique apoio à sua alta, já que na economia como um todo haja efeitos inflacionários em vários segmentos, como no caso de commodities. “Agora o dólar a R$ 3,30 é um fator positivo para nós, e esperamos que ele chegue a R$ 3,70, como tenho ouvido as previsões, que parece que é o que pode acontecer até o meio do ano. E mesmo nesse caso parece que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não tem disposição de interferir no câmbio, pois ele tem dito que de maneira nenhuma faria isso. O governo vai respeitar o câmbio flutuante”, afirmou o presidente da Abih.

Fontes também lembra que os brasileiros estão cada vez mais viajando pelo país. “Nós temos 35 milhões de brasileiros que não consumiam e colocaram o turismo na sua bolsa de consumo anual nos últimos anos, e existe a perspectiva de incluir mais 50 milhões nos próximos dez anos. Então, é algo muito atrativo. Isso é o que neste momento nos faz apostar no crescimento do setor hoteleiro, acima de 10% ao ano”, diz.

Por conta dessas perspectivas, no momento, a atenção do setor de turismo é maior para o mercado interno e deve continuar assim ainda por um período. “Hoje, o que mais se constrói no país são hotéis de perfil econômico”, afirma Fontes. “Esse é o grande atrativo, o setor deu uma parada nos resorts e em outros segmentos mais sofisticados e voltou para o perfil mais econômico.”

Segundo Fontes, isso não significa que os novos hotéis são de baixa categoria, mas são instalações que têm uma oferta de serviço mais reduzida, tendo em vista que esse cliente, o cliente interno, não é muito exigente: “Mas ele vai aproveitar mais a cidade, a convivência; o brasileiro é diferente do europeu e norte-americano, ele não é de ficar dentro do hotel, o brasileiro quer ver gente, quer sair, esse é o perfil”, observa Fontes.

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