pibinho

Crise hídrica e seca pioram perspectivas para o desempenho do PIB neste ano

Projeções de crescimento do Banco Central caem para 0,03% e já há quem fale em PIB 0,5% negativo; comentarista da RBA lembra que Operação Lava Jato também contribui para piora das expectativas

Elza Fiúza/ABr

Para Pochmann, a crise hídrica e a seca vão prejudicar o desempenho da economia assim como a Operação Lava Jato

São Paulo – A crise hídrica que afeta a produção de energia e o abastecimento de água na região Sudeste terá impacto negativo no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. A mais recente projeção do Banco Central, por meio do relatório Focus, divulgada hoje (2), indica um comportamento de 0,03% para o PIB neste ano, ou seja, algo bem próximo de zero. Na semana passada, essa projeção estava em 0,13% e há quatro semanas, em 0,5%.

A nova previsão não encerra as perspectivas desalentadoras para a economia neste ano, que também são dadas pelas medidas de ajuste fiscal, como a mudança nas regras do seguro-desemprego, alongando o prazo para obtenção do benefício, e o cenário recessivo com os desdobramentos da crise internacional na balança comercial do país, a elevação dos juros e o agravamento da inflação; esta, segundo o mesmo relatório, de acordo com o IPCA, agora deverá fechar o ano em 7,01%, depois de registrar 6,56% há quatro semanas.

Para Otto Nogami, professor do economia do Instituto Insper, pensar em 0,5% negativo para o PIB não chega a ser fora de propósito em vista do cenário que vem se agravando a cada dia, com previsões até de um racionamento radical em São Paulo, na base de cinco dias sem água e dois dias com, e o esgotamento, ou colapso, dos sistemas Cantareira e Alto Tietê.

“Dada a concentração não só de renda mas de atividade industrial, não tenho dúvida do impacto, e não por uma questão recessiva, mas principalmente pelas medidas necessárias para corrigir o rumo da economia, com o agravante que é o problema da seca”, afirma Nogami. O economista também endossa as perspectivas de elevação da inflação. “Dentro do cenário atual é de se esperar inclusive uma inflação acima do limite da meta, então, isso é que justifica de alguma maneira, em termos de política monetária, a decisão do Copom de aumentar a taxa de juros, em meio ponto, de 11,75% para 12,25%.”

Menos ortodoxo em suas observações sobre a economia, mas também sem uma bola de cristal mais otimista, o economista Marcio Pochmann, colaborador da Rede Brasil Atual, lembra ainda, como outro agravante do desempenho do PIB, o impacto da Operação Lava Jato nos negócios da Petrobras, que sozinha responde por algo próximo de 10% a 12% do PIB do país. Para ele, o problema com a petrolífera está repercutindo no setor de engenharia do país, que agora precisa se reorganizar, inclusive frente a setores mais conservadores, que defendem a abertura da área de construção para empresas estrangeiras.

Para Pochmann, a crise hídrica e a seca são a segunda hípotese para prejudicar o desempenho da economia depois da Operação Lava Jato. Ele destaca que se o racionamento, de água ou energia, for maior do que o consumo haverá uma elevação nos preços ainda maior. “O racionamento de água impacta o setor produtivo desde a agricultura e obviamente, no Sudeste, a indústria de manufatura.” Ele lembra que também há o fator externo. “Os Estados Unidos têm deflação de preços e Banco Central europeu vai na mesma direção do BC norte-americano, de injetar recursos na economia europeia”, afirma.

Seja como for, para moradores de alguns bairros mais distantes da Grande São Paulo o colapso no fornecimento de água já é uma realidade. Uma moradora do bairro dos Pimentas, em Guarulhos, que prefere não se identificar, diz que o caos já se instalou em sua vida, nos últimos dias, depois que o fornecimento de água em seu bairro ficou totalmente irregular. “Chego a ficar três dias sem água”, afirma, enquanto oficialmente a cidade de Guarulhos mantém racionamento de um dia com água e um dia sem.

Hoje (2), o Tribunal de Justiça (TJSP) também entrou como ator no cenário da crise hídrica e anunciou reduzir pela metade as sessões do órgão especial, colegiado que reúne 25 desembargadores e julga processos sobre autoridades e questões constitucionais. Em vez de semanais, as sessões serão a cada 15 dias.

A depender do andamento das chuvas, abaixo dos níveis históricos, já que obras do governo estadual não ficam prontas neste ano, os próximos dias podem reservar novos impactos negativos na rotina da sociedade e da economia no Sudeste.