Palestra

Mendonça de Barros descarta crise e afirma que Brasil vive ajuste para novo ciclo

Presidente do BNDES no governo FHC discorda de ideia defendida por economistas próximos a Aécio, critica distorções da mídia tradicional e afirma que país está passando por transição para novo modelo

Edson Silva/Folhapress

“Quem quer estragar o dia lê O Estado de S. Paulo”, critica economista sobre pessimismo midiático

São Paulo – O economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES, rejeita a ideia de que o país esteja ingressando em uma crise e afirma que a economia nacional passa por uma fase de ajuste que logo permitirá um novo ciclo de expansão da produção e da renda. “O que estamos vivendo hoje é um ajuste cíclico depois de um longo período. Não tem nada a ver com fim de modelo. Temos de recalibrar a política econômica”, defendeu na última quinta-feira (21), durante palestra em São Paulo.

Ao responder a perguntas da plateia durante evento promovido pela Associação Brasileira de Instituições de Previdência Estaduais e Municipais, ele rejeitou a ideia de que o país esteja ingressando em um ciclo prolongado de depressão econômica. Nos últimos meses algumas consultorias privadas têm divulgado estimativas de recessão e de aumento do desemprego – o caso mais famoso foi o da Empiricus, que lançou documento intitulado “O fim do Brasil”.

As ideias acabaram ganhando eco entre candidatos à presidência da República, em especial na campanha do postulante do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves, que chegou a fazer comício em porta de fábrica divulgando dados errados sobre a inflação e o nível de emprego. “Nós não vivemos uma crise estrutural. Vivemos um período de ajustes cíclicos, que é diferente”, criticou Mendonça de Barros. “Quem quer estragar o dia lê O Estado de S. Paulo. Você lê o Estado e parece que nós estamos quebrando.”

Ele avalia que Dilma Rousseff (PT) cometeu erros na condução da política econômica, mas entende também que parte da situação foi herdada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O economista analisa que o petista acertou ao garantir adaptações, e não uma ruptura com o modelo da gestão anterior, de FHC, mas perdeu o momento de promover mudanças.

“Nós sabemos que quando uma economia começa a crescer no cenário em que cresceu, com alguma ociosidade, a margem de lucro das empresas é imensa”, diz. “O que o Lula fez? Começou a subir o salário mínimo. Toma a distribuição dos lucros das empresas, tirando um pedaço do capital e passando para o trabalho. No momento isso podia ser feito porque o aumento de lucro dos empresários era de tal ordem que, mesmo dando uma garfada num pedaço, eles ainda estavam contentes.”

O crescimento do mercado formal, com carteira assinada, garantiu uma mudança na relação dos trabalhadores com a sociedade em geral, diz Mendonça. A garantia do reajuste salarial anual e de direitos como Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e seguro-desemprego dão segurança aos setores financeiro e produtivo de que haverá fluxo estável de renda, o que cria um ciclo para o fornecimento de mais crédito e serviços. “O brasileiro passou de informal para formal, mas continua um consumidor forte. O consumo é dois terços do PIB, isso é uma digital de sociedade de consumo.”

Mendonça de Barros entende, porém, que o modelo de crescimento econômico calcado no consumo já dava sinais de esgotamento quando do começo da crise internacional iniciada em 2008-09, mas admite que nenhum presidente do mundo, “nem nos Estados Unidos, nem na França, nem na Alemanha”, faria ajustes em direção a um novo modelo ao entrar no ano eleitoral de 2010.

Ele argumenta que Dilma, durante os dois primeiros anos de mandato, apostou em uma nova tentativa de crescimento da economia por este modelo, o que resultou em um erro. Mendonça de Barros evoca neste aspecto tema recorrente entre economistas de pensamento liberal: a presidenta se equivocou ao mexer no lucro do setor elétrico e na falta de incentivos a setores estratégicos, em especial o de produção de açúcar e etanol, afetado pelo início da exploração do petróleo na camada de pré-sal.

“Nesse começo de governo ela entrou em conflito com o mercado. Interveio na área energética, quebrou o setor sucroalcooleiro. Num momento em que era fundamental ter o setor privado com segurança para investir, recuou. Resultado: você teve a convergência de vários fatores de redução da atividade econômica”, diz.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é um dos temas mais abordados pela mídia tradicional ao abordar fraquezas do governo Dilma. Em 2011 o PIB cresceu 2,7%, frente a 1% em 2012 e 2,5% em 2013. Para este ano as apostas do mercado financeiro já chegam a baixar de 1%, embora o governo trabalhe com uma perspectiva de expansão entre 1% e 2%.

O ex-presidente do BNDES entende, porém, que, qualquer que seja o governo eleito, a retomada do crescimento não será um obstáculo, desde que se conquiste a confiança dos investidores. “Existe uma saída: o aumento da capacidade de produção. A economia vai voltar a crescer pelo investimento. Só que para investir o setor privado tem que estar com otimismo. A Dilma está pagando o preço por ter uma postura com esse pessoal.”

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