depois do BC

Mantega anuncia medidas para estimular crédito imobiliário

Segundo o ministro, o governo editará duas medidas provisórias, resoluções do Conselho Monetário Nacional e fará emendas a projetos de lei em tramitação no Congresso

josé cruz/abr

Mantega: “Medidas para aumentar a produtividade da economia e melhorar a competitividade do sistema financeiro”

Brasília – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou na tarde desta quarta-feira (20) medidas que facilitarão o crédito imobiliário e reduzirão a inadimplência. As ações envolvem a simplificação jurídica, a criação de títulos com isenção de Imposto de Renda e o fortalecimento de garantias. Pela manhã, o Banco Central anunciou várias medidas que liberam mais recursos para os bancos emprestarem e, desse modo, estimular a economia. No total, serão liberados R$ 25 bilhões a partir da próxima segunda-feira (25).

Segundo Mantega, o governo editará duas medidas provisórias, resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) e fará emendas a projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional. As ações entrarão em vigor gradualmente.

A primeira medida envolve a simplificação da aquisição de imóveis, cujas informações passarão a ser centralizadas em um único cartório. De acordo com Mantega, a centralização reduzirá os custos operacionais e acelerará o processo de compra e concessão de financiamentos imobiliários. A medida provisória com a alteração deve sair até o início da próxima semana.

O governo também lançará uma nova modalidade de títulos privados para fornecer recursos para os financiamentos imobiliários. Chamado de Letra Imobiliária Garantida, o novo papel será emitido pelos bancos e terá isenção de Imposto de Renda e dupla garantia, com cobertura da instituição financeira emissora e carteira imobiliária separada dos demais ativos do banco, caso a instituição seja liquidada. Investidores estrangeiros também poderão comprar o papel.

O novo título complementará as Letras de Crédito Imobiliário (LCI), que atualmente movimentam R$ 100 bilhões. “O novo papel tem vantagens em relação à LCI porque tem mais garantias e está dentro dos padrões internacionais, o que permite que a poupança estrangeira passe a financiar a aquisição de imóveis no Brasil”, disse o ministro. A criação do título depende de medida provisória.

O governo também anunciou um incentivo para que imóveis quitados sejam usados como garantia em qualquer tipo de operação de crédito. Agora, até 3% dos recursos da caderneta de poupança aplicados no mercado imobiliário poderão ser usados para operações de crédito, de qualquer finalidade, que tenham imóveis quitados como garantia. De acordo com o Ministério da Fazenda, a medida poderá gerar até R$ 16 bilhões em novas operações. A mudança passa a valer a partir quando o governo editar resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Além de estimular o crédito imobiliário, o governo incentivará o crédito consignado privado. Atualmente, a maior parte do crédito consignado (com desconto na folha de pagamento) é concedido a aposentados e a servidores públicos. Para os trabalhadores privados, essa modalidade de crédito não decolou, segundo Mantega, porque, muitas vezes, as empresas trocam de banco por meio do qual fazem a folha de pagamento.

Agora, o tomador do crédito poderá autorizar a instituição financeira a debitar o valor da prestação simultaneamente ao depósito do salário em conta corrente. De acordo com o ministro, na prática, a medida permite que a empresa troque de banco para o pagamento dos salários, mas a conta que recebeu o empréstimo deve permanecer na instituição financeira original. A mudança será implementada por meio de medida provisória.

O governo facilitou ainda a tomada de bens móveis (carros, caminhonetes, caminhões, ônibus, tratores e máquinas) pelos bancos em caso de inadimplência. O tomador do empréstimo poderá autorizar diretamente a recuperação do bem financiado em caso de inadimplência, dispensando ações na Justiça. Segundo Mantega, a mudança será feita por meio de emenda a projetos de lei em tramitação no Congresso e permitirá que os bons pagadores consigam financiamentos com juros mais baixos e maior segurança jurídica.

O secretário executivo da Fazenda, Paulo Rogério Caffarelli, explicou melhor a medida: o governo decidiu simplificar a cobrança de crédito em atraso. As instituições financeiras não precisarão mais entrar na Justiça para pedir a dedução de tributos referentes a prejuízos com empréstimos em inadimplência. A medida beneficiará operações de crédito sem garantia de até R$ 100 mil e operações com garantia de até R$ 50 mil. Acima desses valores, continua a necessidade de cobrança judicial. A nova regra depende de medida provisória para passar a valer.

De acordo com Mantega, as medidas contribuirão para aumentar a produtividade da economia e melhorar a competitividade do sistema financeiro. “As medidas melhoram a regulação do crédito brasileiro. O que todo mundo quer no Brasil é aumentar a competitividade, reduzir custos e simplificar as transações”, explicou.

Cenário

As medidas anunciadas hoje tanto pelo Ministério da Fazenda e pelo Banco Central só puderam ser adotadas graças a um cenário de melhora da economia brasileira, conforme opinião manifestada por Mantega. Segundo ele, apesar de estimularem o crédito, as medidas não deverão aumentar a inflação no país.

“O BC tem sido muito bem-sucedido. A inflação está sob controle, e com o preço de alimentos caindo. Foi por isso que ele resolveu irrigar gradualmente a economia, com medidas que melhorarão o crédito” também de forma gradual, disse Mantega. Segundo ele, a economia do país “está sólida” e não patinando como dizem alguns críticos.

“É justamente porque a inflação está absolutamente controlada que estamos tomando essas medidas de flexibilização, a fim de irrigar com crédito alguns setores da economia”, disse o ministro. “A Copa do Mundo foi boa, apesar de ter menos dias úteis. O cambio está estável; o fluxo de capital externo está positivo e despertando interesse no exterior. Além disso, a inflação no mês passado foi perto de zero, após vir caindo nos últimos quatro meses”, argumentou.

Segundo ele, o endividamento das famílias tem caído nos últimos meses, bem como a inadimplência. Famílias estão habilitadas para isso, com famílias trabalhando e tendo sua massa salarial crescendo.

Mantega acrescentou que as medidas adotadas pelo governo são, em sua maioria, de âmbito regulatório, e fazem parte de um conjunto de esforços que buscam melhorar o marco regulatório. “A tendência é reduzir o custo para consumidor e empresário, criando condições para redução do spread. Mas isso é uma decisão do mercado, que é livre. O que nos cabe é criar condições para que esses custos baixem. Apenas demos as condições propícias para essa redução.”

“Nosso ritmo não é político. Temos um fluxo de medidas que amadurecem até entrar em vigor. Mesmo durante ou após as eleições. É um fluxo permanente de medidas para aperfeiçoar o marco regulatório”, justificou.