Juros

Copom segue expectativas e mantém taxa de juros em 11%

Selic é mantida pela segunda reunião seguida, após uma sequência de nove altas

São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central acompanhou a expectativa generalizada e manteve a taxa básica de juros em 11% ao ano. A Selic é mantida pela segunda vez seguida, depois de uma sequência de nove altas.

Mais uma vez, a decisão foi unânime e sem viés. O comitê mantém sinal aberto para novas intervenções, como se observa na nota ao final da reunião, na noite de hoje (16): “Avaliando a evolução do cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, neste momento, manter a taxa Selic em 11,00% a.a., sem viés”.

A combinação entre atividade econômica fraca e inflação ainda preocupante, embora com tendência de declínio nos últimos meses, fez o chamado mercado apostar de forma quase unânime na manutenção da taxa de juros, que no período de um ano, até maio, havia subido 3,75 pontos percentuais, para 11%, deixando para trás o seu menor nível histórico (7,25%). A maior parte dessa alta ocorreu em 2013 (2,75 pontos).

Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Benjamin Steinbruch, a manutenção da taxa básica nesse patamar mantém a economia sob risco e faz o país entrar na recessão. “Um amplo conjunto de indicadores mostra que a atividade está fracana maioria dos setores. A produção industrial no segundo trimestre será, muito provavelmente, o quarto trimestre consecutivo de queda, configurando um quadro recessivo na indústria de transformação. Nos demais setores, como o de comércio e serviços, indicadores mostram que o pessimismo e a morna atividade prevalecem”, afirmou, em nota.

A confiança do empresariado não é uma simples questão de humor. Sua base é formada no crescimento das vendas, capacidade de produção, desempenho do mercado. Quando a demanda enfraquece e não se vê possibilidade de reversão no curto prazo, a confiança diminui e o investimento se retrai”, acrescentou Steinbruch.

Outra entidade empresarial, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), considerou a decisão acertada. “Uma eventual alta dos juros, com majoração do custo de financiamento dos projetos de investimento industrial e do crédito ao consumo, agravaria as dificuldades da atividade produtiva”, diz a entidade, também por meio de nota. Para a CNI, o controle da inflação não deve passar pela política monetária. “É crucial que a decisão de manter juros estáveis seja acompanhada de medidas fiscais menos expansionistas e de maior foco na manutenção dos investimentos públicos. Sem uma ação coordenada, corre-se o risco de um cenário ainda mais preocupante: crescimento próximo a zero e inflação acima da meta.”

Já a Força Sindical considerou “nefasta” a decisão. “Reforçamos nosso posicionamento de que a política monetária precisa ser voltada a um projeto de desenvolvimento do País. E não o contrário”, afirmou o presidente da central, Miguel Torres. “O desempenho pífio da economia, que tem registrado índices muito inferiores aos esperados, é resultado da falta de uma agenda que impulsione o país rumo ao desenvolvimento, que privilegie a produção e fomente a criação de novos postos de trabalho.”

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) também criticou o Copom. “Os únicos beneficiados são os bancos, os rentistas e grandes especuladores financeiros, que continuarão lucrando muito, tirando recursos públicos que deveriam ser direcionados para o crescimento da economia com distribuição de renda”, afirmou o presidente da entidade, Carlos Cordeiro, para quem “o Copom deixou escapar uma nova oportunidade para baixar a Selic e forçar uma queda dos juros e dos spreads dos bancos, a fim de baratear o crédito para a produção e para o consumo, incentivando o emprego e a distribuição de renda”.

Ele cita pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), mostrando que desde abril de 2013, quando a Selic estava nos 7,25%, a taxa de juros cobrada pelos bancos subiu 15,27%. “Os juros do cartão de crédito, por exemplo, passaram em média de quase 193% ao ano para 238,67% ao ano, uma alta de 23,7%. “Em pouco mais de um ano, os bancos vêm elevando as suas taxas de juros muito acima do aumento da Selic no período, obtendo lucros fabulosos e onerando os clientes e a sociedade brasileira.”