Rumos da economia

Mantega: Brasil deve acelerar crescimento no período pós-crise

Em seminário, ministro da Fazenda diz que recessão global está a caminho de ser resolvida e afirma que construção do Estado de bem-estar social coloca país em 'melhores condições'

Brasileiros

“Nós caminhamos na contramão da concentração e poderemos continuar nesse caminho”, disse o ministro

São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita que a economia global está em transição gradual entre o cenário de crise que vem deteriorando o bem-estar social nos países desenvolvidos desde 2008, com impacto negativo também sobre as economias emergentes, e um período de retomada da expansão global do comércio e dos investimentos, quando o Brasil pode ser um dos maiores beneficiários. A análise foi apresentada por Mantega na manhã de hoje (28) durante o seminário Rumos da Economia, organizado pela revista Brasileiros, em São Paulo.

Ao contrário do que acontecia no passado, quando o governo desestruturava a política econômica em vigor durante as crises, nós tivemos condições de manter nossa política desenvolvimentista e manter a construção do Estado de bem-estar social, ao contrário dos países que estão desmontando os benefícios. Assim, o Brasil entra nesse período pós-crise em melhores condições do que a maioria dos países para retomar um crescimento mais acelerado”, avaliou. O ministro destacou que, de 2002 a 2013, as reservas internacionais brasileiras foram de US$ 17 bilhões para US$ 378 bilhões, a quinta maior do mundo, o que permitiu a aplicação de políticas anticíclicas que reduziram o impacto da crise no país. “Nossa taxa média de crescimento durante a crise foi de 3%, então, não podemos dizer que foi um desempenho ruim”, completou.

Mantega afirmou, ainda, que o pacote de investimento do governo em infraestrutura, que prevê o empenho de R$ 679 bilhões em diversas áreas estratégicas até 2022, terá benefícios sensíveis para a população a partir de 2015, e marcará o novo ciclo de desenvolvimento do país. Os investimentos serão da ordem de R$ 186 bilhões em energia, R$ 188 bilhões em petróleo e gás, R$ 91 bilhões em ferrovias, R$ 81 bilhões em mobilidade urbana, R$ 54 bilhões em portos e R$ 47 bilhões em rodovias. “Temos um agravante que é o fato de que temos demanda instalada para tudo isso. Ao contrário da China, que investe em estruturas ainda ociosas, o crescimento que experimentamos nos últimos anos já exige esse investimento”, afirmou o ministro, que destacou ainda que a prioridade do governo é investir em áreas que têm impacto sobre o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) e no emprego.

O objetivo do governo, segundo o ministro, é que, entre 2015 e 2022, o investimento no país cresça, em média, 7% ao ano, com crescimento médio do PIB acima de 4% anuais e crescimento do PIB per capita, a divisão das riquezas da nação por habitante, de 33,2%. Entre 2003 e 2013, o crescimento do PIB per capita foi de 29%, mas, segundo o ministro, esse resultado foi melhor para os mais pobres, uma vez que o Brasil não interrompeu a distribuição de renda durante a crise. “O grande objetivo da política econômica é o bem-estar da população, que vem melhorando, apesar da grande crise. A renda per capita cresceu 29,3% na última década, mas, para a base da pirâmide social, cresceu acima disso. Nós caminhamos na contramão da concentração de renda e poderemos continuar nesse caminho se dermos continuidade à política de desenvolvimento que está sendo aplicada”, afirmou.

O ministro minimizou ainda as dúvidas do mercado em relação à inflação e afirmou que, a partir de maio, com o fim das sazonalidades que causam o aumento da inflação, a taxa voltará ao centro da meta do Banco Central, de 4,5%. A inflação acumulada em 12 meses, de março a março, foi de 6,19%, ainda dentro da margem de erro de 2 pontos percentuais do BC.

“No começo e no fim do ano, a inflação sempre flutua, por conta do choque de oferta, das entressafras. Temos ainda a desvalorização do câmbio, que causa pressão inflacionária, porque você importa os produtos mais caros. Tivemos esse cenário em 2012 e 2013. Isso soma 0,5% ou 0,6% ao ano à inflação, pelo menos. Além disso, os alimentos, que sofrem choque de oferta quando choveu demais ou quando temos uma seca, como esta do princípio deste ano. A boa notícia é que a pressão sobre os alimentos é passageira. A inflação parcial de abril já é bem menor que a do mês de março, mas, em maio e junho, a inflação volta ao patamar mais bem comportado”, afirmou.

O ministro foi questionado sobre a taxa de juros, que voltou a subir por conta da inflação, mas defendeu a autonomia do BC. “Eles têm autonomia para tomar essa decisão e, de nossa parte, trabalhamos para que as políticas de combate à inflação sejam o mais eficientes possível. A inflação prejudica, principalmente, os trabalhadores e os investidores, e, por isso, não abrimos mão de tê-la sob controle”, ponderou.