Nota

Governo diz que decisão de agência é ‘contraditória’ e ‘inconsistente’

Ministério da Fazenda reafirma segurança da economia brasileira, diz que Standard&Poor's está equivocada e discorda da versão de que não cumprirá meta de superávit primário

Sérgio Lima/Folhapress

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São Paulo – A equipe econômica do governo federal saiu em defesa da política adotada nos últimos anos depois que a agência Standard&Poor´s rebaixou, ontem (24), a classificação de risco do país de BBB para BBB-. A nota mais extensa e enfática partiu do Ministério da Fazenda, enquanto o Banco Central emitiu um comunicado reafirmando que o trabalho está no rumo correto.

Para a Fazenda, a decisão é “inconsistente com as condições da economia brasileira”. A S&P afirmou ter tomado em consideração o baixo crescimento da economia, a “deterioração” da política fiscal, o adiamento do reajuste das tarifas de energia e o que considera um uso equivocado dos bancos públicos, no papel de fomentadores dos programas sociais federais.

“A mudança anunciada é contraditória com a solidez e os fundamentos do Brasil”, lamenta o ministério, que rebate, ponto a ponto, a visão defendida pela agência. O comunicado começa recordando que o Brasil foi um dos poucos que cresceram durante o período de crise, iniciado em 2008 e ainda não superado, e que no ano passado teve uma expansão de 2,3%, superior à da maioria dos países que têm o chamado “grau de investimento”, ou seja, que são confiáveis para investidores.

O governo defende ainda que tem margem para aguentar choques externos, afirma que a dívida, apesar de alta, se mantém em um nível seguro, e reafirma que vai cumprir a meta de superávit primário de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) – ontem a agência duvidou que o país vá conseguir cumprir este objetivo.

Além disso, diz a nota da Fazenda, o país tem baixa vulnerabilidade por possuir o quinto maior volume de reservas internacionais do G-20, o equivalente a 10 vezes a dívida externa de curto prazo.

“Equivocadamente, a agência questiona a suficiência do Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil. Vale lembrar que o País tem estado entre os 5 maiores receptores mundiais de IED e que, nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2014, ingressaram US$ 65,8 bilhões somente nessa rubrica”, continua o comunicado.

Já o Banco Central afirma que o país “continuará respondendo de forma clássica e robusta aos desafios que se colocam no novo quadro internacional”, uma resposta que conjuga austeridade, flexibilidade cambial e utilização das reservas acumuladas ao longo dos últimos anos. “Com isso, o Brasil encontra-se bem posicionado nesta nova fase de normalização das condições financeiras globais e tem plena capacidade de atravessá-la com segurança”, diz.

Ao mesmo tempo em que promoveu o rebaixamento, a agência de classificação de risco admitiu a solidez da economia brasileira e afirmou não ver motivos para um novo rebaixamento pelos próximos dois anos. Antes o país integrava um grupo com Colômbia e Itália, e agora está ao lado da Índia entre os BBB-. No ranking da S&P, Cingapura e Alemanha são as nações mais confiáveis, demonstrando total capacidade para honrar seus compromissos.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, classificou como “coisa de estelionatário” a decisão da agência. Ele recordou que as instituições de avaliação do mercado tiveram papel central na crise iniciada em 2008 ao emitirem uma série de avaliações equivocadas e ao incentivar o deslocamento brusco do capital financeiro entre as nações. “Elas é que deveriam ser rebaixadas. Como se pode acreditar numa agência de risco que deu nota AAA a um pacote de créditos sem que soubessem o que tinha dentro?”, questionou, afirmando que a decisão não tem impacto de longo prazo na economia brasileira. “É inacreditável ter que dar opinião sobre uma coisa tão evidentemente inexpressiva.”