Selic

Com provável nova alta dos juros, centrais sindicais protestam diante do BC

Na última reunião do ano, entre hoje (26) e amanhã, expectativa é de que taxa básica chegue a 10%, voltando aos dois dígitos depois de quase dois anos

CC / Guilherme Zocchio

São Paulo – Durante mais de um ano, no atual governo, as taxas de juros ganharam protagonismo e seguiram incomum curso descendente, caindo cinco pontos percentuais, para 7,25%, seu menor nível histórico. Nesse período, o governo pressionou os bancos a reduzir suas taxas e iniciou um debate sobre o chamado spread. Passado o furor, veio o receio da inflação – e o mercado reagiu: de abril para cá, os juros básicos (Selic) não pararam mais de aumentar, atingindo 9,50% ao ano na reunião mais recente. Hoje (26) pela manhã, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) inicia a última reunião do ano e é unânime a aposta (do mercado) em nova alta, para 10%, retornando aos dois dígitos depois de quase dois anos, as centrais sindicais farão um protesto diante do prédio do Banco Central, em Brasília. A manifestação deve começar por volta das 10h.

Será o segundo ato conjunto das centrais. Duas semanas atrás, as entidades fizeram manifestações pelo país pelo fim do fator previdenciário e pela correção da tabela do Imposto de Renda. Os sindicalistas cobram mudanças na política monetária, argumentam que as sucessivas altas dos juros prejudicam a atividade produtiva e só favorecem o sistema financeiro.

“Os juros altos interessam apenas aos banqueiros, rentistas e especuladores. Alimenta uma espiral que não gera renda, não gera nada. Vamos exigir a imediata redução dos juros, para impulsionar a produção nacional e o desenvolvimento”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas.”O governo precisa entender que a política de juros altos só prejudica o setor produtivo, o comércio e a geração de postos de trabalho dignos”, acrescenta o presidente da Força Sindical, Miguel Torres.

Em artigo publicado na revista Teoria e Debate, o economista Amir Khair lembra que a estratégia adotada no ano passado pelo governo, de orientar Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal a reduzir taxa e expandir o crédito via ampliação de clientes “teria tudo para dar certo”.

Ele observa que nos primeiros seis meses de ofensiva houve forte redução na Caixa e “não tão intensa” no BB, e menor nos bancos privados. Estes últimos, passado um período de acomodação, “voltaram a elevar suas taxas para os níveis anteriores à ofensiva governamental, aproveitando que a pressão do governo tinha amortecido”.

Para Khair, faltou ao governo manter a pressão sobre os bancos públicos e implementar novas medidas em relação aos particulares. Entre essas medidas, ele cita duas: “redução da Selic ao nível da inflação, como ocorre tanto nos países emergentes quanto nos desenvolvidos, e redução e tabelamento das escorchantes tarifas nos serviços bancários”.

Isso aumentaria a disputa dos bancos por clientes, o que se refletiria na queda dos juros. “É o mercado agindo para tornar o sistema bancário mais competitivo. Isso pouco ocorre, pois os bancos podem se dar ao luxo de só financiar os ditos bons clientes, pois seus ganhos são engordados pelas aplicações sem risco nos títulos oficiais (ganhos de tesouraria) e pelas tarifas bancárias que por si só cobrem tudo o custo fixo bancário.”

O governo Dilma recebeu a Selic em 10,75%. Já sob a gestão de Alexandre Tombini, a taxa básica subiu meio ponto na primeira reunião, indo a 11,25%. Até meados de 2011, os juros subiram, até 12,50%. Seguiu-se uma longa série de quedas (dez), para os 7,25% de outubro do ano passado. Assim ficaram durante três reuniões do Copom, que depois, sob pressão do onipresente mercado e de picos de inflação, começou o ciclo de altas, cinco seguidas até aqui, para 9,5%.

O IPCA, índice oficial de inflação, chegou a 6,7% em junho (acumulado em 12 meses), mas depois disso manteve-se dentro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional. Em outubro, fechou em 5,84%. Mas para muitos o perigo não passou, e por isso não são poucas as previsões de que a Selic não vai parar nos 10%. A primeira reunião do Copom em 2014 será entre 14 e 15 de janeiro.