Crescimento menor

Inflação atrapalha, mas 84,5% das negociações no primeiro semestre têm aumento real

Atividade econômica mais fraca foi outro fator determinante para os acordos não serem tão bons como no ano passado. Mas Dieese afirma que resultados não podem ser considerados ruins

FEM-CUT

Em São Paulo, metalúrgicos estão em campanha desde julho para pedir aumento real de salário

São Paulo – Em um cenário de baixo crescimento e inflação um pouco maior, as negociações salariais realizadas no primeiro semestre conseguiram resultados positivos, embora em ritmo inferior ao de igual período do ano passado, segundo pesquisa divulgada hoje (22) pelo Dieese. De 328 acordos coletivos analisados, 84,5% foram fechados com reajustes acima do INPC-IBGE, 7% tiveram índices equivalentes e 8,5% ficaram abaixo da inflação. O aumento real (acima da inflação) médio foi de 1,19 ponto percentual. A primeira metade do ano reúne categorias como trabalhadores na construção civil e nos transportes, além da indústria da alimentação, entre outras.

No primeiro semestre de 2012, quase 100% dos reajustes ficaram acima da variação do INPC. Foram 96,5% acordos com índices superiores ao da inflação e 3% equivalentes ao calculado pelo IBGE e usado como referência nas negociações trabalhistas. O ganho real médio foi de 2,23 pontos percentuais. Segundo o Dieese, esse foi o melhor resultado desde 1996.

O índice do primeiro semestre deste ano (84,5% de reajustes acima da inflação) é equivalente ao de 2011 (84,4%). Fica também abaixo de 2010 (87,2%) e acima de 2008 (75,9%) e 2009 (78%). Os acordos com índices abaixo do INPC subiram de 0,9% em 2012, para 8,5%.

O coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira, identifica um cenário mais diverso devido às incertezas da economia. Mas acrescenta que os números não podem ser vistos como ruins. “É fato que há um ligeiro recuo. Mas não podemos considerar negativo o resultado. O que houve foi um pequeno recuo causado pelo aumento da inflação”, afirma. Ele também critica o que chamou de “certo terrorismo de parte da mídia” em relação a um suposto descontrole inflacionário. “A inflação nada teve de anormal nesse período”, diz.

Na avaliação do economista, esse “terrorismo” visava, sobretudo, a aumentar a taxa básica de juros. “É a justificativa para a gritaria que houve naquele momento.”

Entre os setores, de janeiro a junho deste ano a indústria teve 85,2% de acordos com reajustes acima da inflação, o comércio registrou 97,8% e o setor de serviços, 79,4%. A indústria teve quase 10% de acordos abaixo do INPC, o pior resultado desde 2008. “Foi o setor que nos últimos anos teve desempenho pior em função da crise, e isso em certa medida se refletiu nas negociações”, observa Silvestre.

Nas regiões, destaca-se o número alto de reajustes abaixo do INPC nas regiões Norte (23,8%) e Nordeste (15,9%). No Sudeste, esse percentual chegou a 8% e no Sul, a 8,9%. O menor índice foi do Centro-Oeste (5,9%).

Silvestre lembra que várias medidas foram adotadas pelo governo, como desonerações e redução das tarifas de energia. “A expectativa era de que isso estimulasse o setor industrial”, comenta.

Já o mercado de trabalho exige atenção. “O que a gente vem observando é que tanto os dados da ocupação como os registros administrativos (Rais e Caged) mostram uma perda de dinamismo”, diz Silvestre.

Para o segundo semestre, a tendência é positiva, afirma o economista do Dieese. “Um dado fundamental é que a inflação acumulada deve ser menor. E você tem um quadro mais definido sobre o crescimento da economia em 2013”, afirma. Além disso, os resultados na segunda metade do ano costumam ser melhores, entre outros fatores por se tratar de um período de produção maior e com setores de ponta, como metalúrgico, químico, de petróleo e financeiro.

Bancários, metalúrgicos, petroleiros e trabalhadores nos Correios já entregaram suas pautas de reivindicação e iniciaram negociações. As três primeiras categorias têm data-base em 1º de setembro e a última, em 1º de agosto.

Silvestre observa que o ideal para um crescimento sustentado, com reflexo nas negociações, seria uma alta do PIB constante em torno de 4%, 4,5%. “Mas o Brasil não tem conseguido crescer 4% de forma continuada.” Ele avalia que em 2014 a economia brasileira deverá subir em torno de 3% a 3,5%. “Não vamos crescer 7,5%, como em 2010. Foi um ponto fora da curva. Assim como o mundo não cresce. Tirando a China, qual país cresce nesse patamar?”