Selic

BC cedeu a terrorismo do mercado, dizem trabalhadores do sistema financeiro

Contraf-CUT lembra que aumento dos juros para 9% ao ano, quarta elevação seguida, transfere bilhões de recursos públicos para os bancos e desestimula o crescimento

São Paulo – A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, elevando os juros básicos da economia para 9% ao ano, foi fortemente criticada por sindicalistas e entidades empresariais. Foi o quarto aumento consecutivo promovido pelo Banco Central (BC) desde o início do ano, sob a justificativa de supostas pressões inflacionárias e cambiais.

Para a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), o Banco Central (BC) mais uma vez capitulou frente ao “terrorismo do mercado financeiro” e desestimular o crescimento econômico e a criação de empregos.

“O Copom e o Banco Central capitularam mais uma vez ao terrorismo do mercado financeiro e dos especuladores. Antes, a desculpa para elevar a taxa de juros era a chamada ‘inflação do tomate’, que já recuou. Agora, o motivo é a desvalorização do real frente ao dólar norte-americano. Mas os argumentos do rentismo não se sustentam, pois o resultado é o mesmo: transferência de bilhões de recursos públicos para as instituições financeiras, que detém 25% da dívida pública, desestímulo ao crescimento, encarecimento do crédito e freio na geração de empregos e renda”, avalia Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.

Para o dirigente sindical, “a elevação da Selic pela quarta vez consecutiva em 2013 não se justifica”, uma vez que o impacto das políticas monetária e fiscal adotadas pelos Estados Unidos, que está provocando as oscilações para cima da moeda americana, é pontual. A taxa de câmbio deve cair até o final do ano e a inflação deve manter a tendência de queda no segundo semestre e fechar o ano abaixo do teto da meta de 6,5%.

De acordo com estimativas do Dieese, cerca de 30% da dívida pública brasileira está atrelada à Selic e, a cada 0,5 ponto percentual a mais nessa taxa a dívida cresce R$ 3 bilhões ao ano, recursos estes que acabam sendo transferidos, em grande parte, para o sistema financeiro.

“Esse repasse significa quase seis vezes o valor de R$ 511 milhões do convênio do governo brasileiro com Cuba, que trará 4 mil médicos para trabalharem no país até 2014”, compara Cordeiro.

Risco de recessão

O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, fez a mesma avaliação. “Fica evidente a opção da equipe econômica do atual governo de continuar privilegiando os especuladores e deixando em segundo plano a produção e a geração de novos empregos. Elevar a taxa Selic só contribui para a redução de investimentos no setor produtivo, obrigando o governo a pagar mais juros para especuladores”, declarou.

A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) classificou como erro o novo aumento da taxa de juros.

“A economia brasileira está parando e, com essa medida, o Banco Central pode precipitar uma recessão, gerando desemprego e redução de renda. Isto tira ainda mais a competitividade do Brasil e o que já não estava bom pode ficar ainda pior. Há muito tempo pedimos mudanças na política econômica, na direção de maior controle de gastos e menos uso da taxa de juros”, disse por meio de nota o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Para a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad), a elevação dos juros é um “remédio amargo cuja eficácia é duvidosa, enquanto o prejuízo à economia é mais do que certo”.

Em nota, o presidente da Abad, José do Egito Frota Lopes Filho, disse que as justificativas para o aumento “não contemplam a elevação de preços dos serviços, que compõem a inflação e respondem lentamente a qualquer medida governamental”.