Saída

Reforma tributária deve buscar justiça fiscal, afirma técnico do Dieese

Para Nelson Karam, reivindicações das ruas por melhores serviços públicos são justas, e aponta taxação sobre fortunas e propriedade como saída

São Paulo – Para o coordenador de Educação do Dieese, Nelson Karam, um novo sistema tributário seria uma caminho mais direto para que as reivindicações das últimas manifestações que tomaram às ruas do país. “O caminho principal para as melhorias nas políticas públicas é a reforma tributária, tema que toca numa questão espinhosa, que é a distribuição de riqueza no país”, disse, em comentário à Rádio Brasil Atual.

Para Karam, com o peso da arrecadação no Brasil nos impostos sobre o consumo, ricos e pobres acabam pagando o mesmo imposto sobre a aquisição de um bem de consumo, o que torna o sistema injusto. “Hoje, 48% dos impostos arrecadados no Brasil são sobre consumo. As famílias mais pobres hoje têm um ônus tributário proporcionalmente muito maior que as famílias mais ricas. Enquanto 10% das famílias mais pobres têm uma carga de 28% sobre sua renda, a da 10% mais ricas é de 10%.”

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O economista ressalta que, apesar de a reforma tributária ser uma pauta antiga na agenda de governantes, o debate não progride. “Predomina a visão que procura estender para a sociedade a visão de que a carga tributária no Brasil é muito alta, e na realidade aqui é bem mais baixa que em países como a França e a Suécia.” Para ele, o maior problema é o fato de a carga tributária no Brasil ser muito desigual.

Para alterar o sistema de arrecadação, o coordenador do Dieese aponta a necessidade de tributação maior sobre a renda e sobre o patrimônio. “O imposto sobre renda no Brasil representa 22% da arrecadação, enquanto o sobre o patrimônio é de apenas 4%. Em países como Estados Unidos, Alemanha e França, o patrimônio pode chegar a 40%.”

Outro ponto levantado por ele é a incidência dos impostos sobre grandes fortunas e o imposto sobre propriedades rurais. “O imposto sobre a propriedade no Brasil também é bastante pequeno diante da arrecadação. Temos uma expansão significativa do agronegócio no Brasil e o imposto sobre a propriedade rural contribui com apenas 0,04% do que se arrecada.”

Ouça aqui o comentário de Nelson Karam na Rádio Brasil Atual.