Dilma afirma que matar crescimento para barrar inflação não é a saída

No momento em que aumenta pressão do mercado financeiro por alta de juros, presidenta afirma que prejudicar alta do PIB é uma política 'ultrapassada' que 'mata o doente' sem acabar com a doença

Dilma considera que política que prejudica crescimento está equivocada (Foto: Roberto Stuckert Filho. Palácio do Planalto)

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff afirmou hoje (27) durante conversa a jornalistas em Durban, na África do Sul, que não vai lançar mão de políticas que minem a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) como forma de conter a inflação. “Eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico, até porque nós temos uma contraprova dada pela realidade”, respondeu a uma repórter que afirmou que “muita gente está preocupada” com pressões inflacionárias.

Nas últimas semanas surgiram relatórios e entrevistas cobrando uma atitude do Banco Central contra o que se considera uma alta de preços. Na visão de alguns economistas, é necessário aumentar a taxa básica de juros, medida que beneficia especuladores do mercado financeiro. Atualmente, a Selic está em 7,25% ao ano, quatro pontos a menos que o registrado no começo do governo Dilma. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária está marcada para os dias 16 e 17 de abril.

“Não tem nada que nós possamos fazer internamente, a não ser expandir a nossa produção, para conter o aumento dos preços das commodities derivado da quebra de safra nos Estados Unidos”, afirmou a presidenta, negando que dentro do governo exista a análise de que há um quadro propício ao aumento da inflação. “Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença, ele é complicado, você entende? Eu vou acabar com o crescimento do país. Isso daí está datado, isso eu acho que é uma política superada. Agora, isso não significa que o governo não está atento e, não só atento, acompanha diuturnamente essa questão da inflação.”

Para Dilma, é importante dar sequência à política de estímulos feita pelo governo. Ela abordou especificamente três aspectos: melhoria da mão de obra especializada por meio do Programa Nacional de Ensino ao Acesso Técnico (Pronatec), redução das tarifas de energia elétrica e desoneração da folha de pagamento. Sobre este ponto, ela informou que o governo já tem previsão de reduzir a carga de 44 setores.

“Por que pode reduzir o preço da energia no Brasil? Porque, sobretudo, quando vencem os contratos de concessão, você tem de retribuir o que o povo fez, pagando sua conta de luz, você retribui. Como que você retribui? Diminui o que era antes pago sob a forma de amortização de capital. Então, vários mecanismos foram feitos”, argumentou, acrescentando que discorda das críticas feitas à recente desoneração de produtos da cesta básica. “Nós estamos vendo um progressivo repasse ao preço, principalmente quando rodar os estoques, você vai ter isso de uma forma mais forte. Mas o governo está olhando, está conversando, está persuadindo, porque se todo mundo pede para a gente reduzir tributo, não é correto que alguns fiquem com os ganhos disso. É fundamental que seja repassado para o povo brasileiro no seu conjunto.”

Mais cedo, ela participou da 5ª Cúpula dos Brics, grupo que reúne Brasil, Índia, China, África do Sul e Rússia. Durante seu discurso, Dilma ressaltou que o país tem se destacado por aplicar modelos de desenvolvimento econômico com inclusão social e por buscar a superação completa da pobreza extrema. “Nós nos distinguimos também porque temos aplicado modelos de desenvolvimento econômico com inclusão social. Para se ter uma ideia, com três anos de antecedência, a meta do desenvolvimento do milênio de diminuir pela metade a proporção de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia já foi alcançada. No Brasil, nós temos, num horizonte próximo, a superação completa da miséria, da pobreza extrema”, disse.