Na classe média, 104 milhões de brasileiros movimentam R$ 1 trilhão por ano

Estudo mostra que o grupo equivale a 53% da população; em 2002, eram 38%. Expansão resultou de um processo de crescimento combinado com redução na desigualdade

Um dos responsáveis pela pesquisa considera que a classe média deixou o ‘limbo’ para ser protagonista do Brasil (Foto: Marcelo Camargo. Agência Brasil)

São Paulo – Se a classe média brasileira fosse um país, seria o 12º país mais populoso do mundo. São 104 milhões de pessoas, o equivalente a 53% da população, que vivem com renda per capita entre R$ 291 e R$ 1.019 por mês e têm baixa probabilidade de se tornarem pobres no futuro próximo, segundo dados divulgados hoje (20) pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República no estudo “Vozes da Classe Média”.

Em 2002, a fatia desse grupo era de 38% da população. O crescimento em 10 anos não se limitou ao crescimento populacional. A classe média tem hoje 37 milhões de pessoas a mais do que tinha há uma década. Desses, 8 milhões resultam do crescimento natural da população e 29 milhões se devem à entrada de pessoas no segmento, o que significa que quase 80% do crescimento foi devido à participação relativa no total da população.

O estudo mostra que em 2012 a classe média está bastante concentrada na área urbana, na região Sudeste, nas pessoas com educação média, nos trabalhadores formais e nos segmentos de indústria e comércio. Os grupos que têm até a educação média representam mais de 90% da classe média. São 59% com ensino fundamental completo e 57% com ensino médio.

A análise dos pesquisadores aponta que a evolução do tamanho da classe média é o resultado da diferença entre o número de pessoas que ascenderam da classe baixa para a média (21%) e o número de pessoas que ascenderam da classe média para a alta (6%). Daí o resultado líquido de um crescimento de 15 pontos percentuais no tamanho da classe média.

O pesquisador Renato Meirelles, sócio do Data Popular, responsável pelo estudo, disse que a classe média deixou de ser vista como um segmento de mercado ou um limbo entre os pobres (alvo das políticas públicas) e a elite (até então vista como “formadora de opinião”) e passou a ser protagonista de um novo Brasil, seja pelo seu peso na população, seja pelo seu peso econômico – já que movimenta aproximadamente R$ 1 trilhão por ano. 

O ministro da SAE, Moreira Franco, destacou a importância do crescimento da classe média para movimentar e impulsionar a economia do país. “Em torno de 18 milhões de empregos foram criados na última década, esses empregos formais foram associados a uma política adequada de salário mínimo que deu ganhos reais acima da inflação aos brasileiros”, disse Franco.

Fatores combinados

A expansão da classe média resultou de um processo de crescimento combinado com redução na desigualdade e, por isso, a redução da classe baixa foi muito mais intensa que a expansão da classe alta. “Caso o processo de crescimento não tivesse sido acompanhado pela redução na desigualdade, a classe média certamente teria crescido muito menos”, diz o relatório.

Mantidas a taxa de crescimento e a tendência de queda na desigualdade dos últimos 10 anos, a classe média deverá abranger 57% da população brasileira em 2022, aponta o estudo. Caso o grau de desigualdade deixe de cair, o tamanho da classe média permanecerá estável nos atuais 53%. 

Ocupação

O estudo Vozes da Classe Média mostra que enquanto 58% da população em idade ativa está ocupada, na classe média esta proporção é de 61%. E que enquanto do total da população ocupada no país, 54% têm um emprego no setor formal, na classe média são 56%.

Consumo

O processo de crescimento com redução na desigualdade resultou também no nível de consumo. Enquanto o consumo da atual classe média cresceu a 2,7% ao ano, a média das famílias brasileiras foi de 2,4%. Com isso, a participação da atual classe média no consumo total das famílias cresceu de 37% para os 38% atuais. O estudo mostra também que no contexto mundial, o Brasil representa oitavo mercado consumidor, logo após a Itália. Nesse sentido, se a classe média fosse um país, representaria o 18º mercado consumidor mundial.

Renda

A renda dos integrantes da classe média brasileira cresceu 3,5% ao ano na última década, enquanto a renda média das famílias brasileiras cresceu 2,4% no mesmo período. Com isso, passou de 32% em 2002 para 36% neste ano.

Igualdade racial na classe média 

Negros e brancos detêm respectivamente 53% e 47% na classe média. Tanto entre negros quanto entre brancos 53% pertencem à classe média. “Isso significa que no interior dessa classe já não há desigualdade racial. O equilíbrio na classe média, no entanto, não quer dizer que as desigualdades raciais foram superadas. Nas demais classes elas perduram: enquanto os negros estão fortemente sobrerrepresentados na classe baixa, os brancos estão sobrerrepresentados na classe alta”, diz o estudo. 

O estudo usa como base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Data Popular.