Mantega critica bancos por insistência em juros altos

Ministro lamenta que instituições financeiras não acompanhem a redução da Selic promovida pelo Banco Central desde o ano passado e reitera que economia retomou nível forte de crescimento

Mantega criticou os países ricos pela demora em garantir a retomada da estabilidade econômica (Foto: Fabio Braga.Folhapress)

São Paulo – O ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticou hoje (30) a resistência dos bancos em promover uma queda na taxa de juros cobrada dos clientes. Durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), no Palácio do Planalto, ele apresentou gráficos mostrando que o spread bancário brasileiro ainda figura entre os maiores do mundo. A diferença entre o custo de captação dos recursos e aquilo que é cobrado é de 26,9%, mais que o Paraguai, com 25,4%, e dez vezes mais que Austrália e Canadá.

“Houve queda do spread, porém, ainda não estamos com uma taxa de juros adequada praticada pelos bancos de modo que possa estimular o consumo”, disse o ministro, reforçando que a redução foi maior entre os bancos públicos, os primeiros a tomar a iniciativa de adotar uma trajetória de queda. Segundo dados do Credit Suisse, a taxa praticada no Banco do Brasil foi de 37,8% em março para 32,4% em julho, na Caixa passou de 33,8% para 27,2%, e entre os três maiores bancos privados a taxa fica em 59,2%, contra 64,8% no fim do primeiro trimestre. 

Mantega celebrou a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central, anunciada ontem, de baixar de 8% para 7,5% ao ano a taxa Selic, a nona redução seguida. “Essa mudança de patamar de juros causa impacto extraordinário na economia brasileira, uma mudança estrutural profunda que vai fazer com que a produção seja privilegiada em relação à aplicação brasileira. Você canaliza a poupança do país para a produção”, disse o ministro.

A apresentação do titular da Fazenda reforçou a visão de que a economia já está retomando um nível forte de crescimento, fruto, além da redução dos juros, de um real mais valorizado, da contenção de gastos públicos, da redução de custos na área de infraestrutura e de desoneração tributária. Neste sentido, Mantega lembrou a prorrogação, anunciada ontem, dos estímulos à indústria automotiva, com corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e criação de novas linhas de financiamento.

Segundo o ministro, as dificuldades no campo do crédito também já deixaram o horizonte, e o ano deve ser de recorde no financiamento imobiliário, com R$ 100 bilhões, quase R$ 20 bilhões a mais que em 2011. O governo aposta ainda que o investimento continuará em expansão. De 2012 a 2015, a estimativa é de que R$ 597 bilhões sejam injetados na economia, a maior parte em petróleo e gás, R$ 136 bilhões a mais que no período 2007-2010. A Petrobras, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida são as grandes apostas do Executivo, somados às recentes concessões de aeroportos, rodovias e ferrovias.

O ministro da Fazenda, porém, não deixou de criticar os países ricos por continuarem, em sua visão, promovendo uma guerra cambial, o que prejudica as economias emergentes. Para ele, a situação da economia internacional continua ruim e os países avançados permanecem “empurrando com a barriga” seus problemas e o cenário não será resolvido a curto prazo. “Em termos de gravidade, o que está acontecendo em 2012 é pior do que o que estava acontecendo em 2009. Estamos em uma fase pior da crise do que estávamos em 2008, em 2009. É uma crise mais prolongada que tem causado mais danos.”

Com informações da Agência Brasil e da Reuters.