Bancos culpam inadimplência e crise na Europa por crédito baixo no país

Febraban evita comentar novas declarações de Dilma Rousseff cobrando redução dos juros cobrados aos consumidores

São Paulo – A inadimplência do consumidor brasileiro e as incertezas no cenário internacional — com destaque para a crise na Europa — são os principais limitadores do crescimento do crédito no país, disse hoje (2) o economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg.  “Ainda não sabemos como os países da zona do euro vão lidar com os altos índices de desemprego e as pressões políticas”, analisou, lembrando a iminência de eleições na França e a instabilidade social na Grécia e na Espanha, que recentemente passaram por greves gerais. “Há pouca probabilidade de ruptura do sistema, mas ainda assim é a principal fonte de instabilidade para a economia mundial e brasileira.”

A Febraban apresentou hoje as projeções e expectativas do mercado sobre uma série de indicadores macroeconômicos para 2012 e 2013. Os números são resultado de pesquisa realizada entre 26 e 30 de abril ouvindo 31 analistas, e servem para medir a “pulsação” dos agentes financeiros no país.

No cenário doméstico, Rubens Sardenberg demonstra ligeira preocupação com a taxa de inadimplência dos brasileiros, cujas projeções se mantiveram estáveis desde o último levantamento realizado pela Febraban, em março. O mercado trabalha com a expectativa de que 5,3% dos consumidores não honrarão suas dívidas com as instituições financeiras.

“É um vetor de preocupação, mas não põe em risco o sistema. Está num nível controlado”. O economista garantiu, porém, que os maiores bancos do país já estão sentindo em seus cofres o prejuízo causado pela inadimplência. “A persistência desse problema irá dificultar uma recuperação econômica mais rápida no Brasil.”

O Itaú Unibanco informou no final de abril que 6,7% dos empréstimos realizados a pessoas físicas foram pagos com atraso. A inadimplência foi uma das principais razões para a redução dos lucros do maior banco do país no primeiro trimestre: R$ 3,426 bilhões, 3% a menos do que em igual período do ano passado. Por outro lado, o Bradesco não teve seus rendimentos tão afetados pela inadimplência: 6,2% dos consumidores não pagaram em dia as dívidas que tinham com o banco, mas, ainda assim, seu lucro foi de R$ 2,793 bilhões no primeiro trimestre — alta de 3,4% em relação a 2011.

Recém-saída de um entrevero com o Ministério da Fazenda, a Febraban não quis comentar a redução da taxa de juros cobrada pelos bancos dos consumidores brasileiros. A taxa de inadimplência foi apontada pelo presidente da entidade, Murilo Portugal, como um dos motivos para que os bancos privados não reduzam o spread bancário, que é a diferença entre o custo de captação de recursos e os juros cobrados dos clientes. A cobrança foi feita após anúncios de redução de tarifas por Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, os dois bancos de varejo públicos federais, e levou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a afirmar que era o momento de deixar de “jogar a conta nas costas do governo”.

Na última segunda-feira (30), durante pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão relativo ao Dia do Trabalho, a presidenta Dilma Rousseff voltou a criticar as instituições financeiras. “É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo. Estes valores não podem continuar tão altos. O Brasil de hoje não justifica isso”, afirmou, lembrando que a taxa básica de juros do Banco Central vem em queda e a inadimplência é baixa. 

Para os consultores entrevistados pela Febraban, a Selic, hoje em 9% ao ano, será reduzida a 8,5% nas duas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O Copom já fez seis cortes em sequência.  A próxima reunião será realizada nos dias 29 e 30 deste mês.

O economista-chefe da Febraban estima que a inadimplência tende a reduzir-se com o tempo. “O desemprego está baixo e a renda da população está crescendo”, analisa. Por isso, o mercado espera que, em abril de 2013, os empréstimos não honrados cheguem ao patamar de 5%. “Com a redução da inadimplência, haverá aumento maior do crédito.”

 

Leia também

Últimas notícias