O mundo precisa de 600 milhões de postos de trabalho, diz OIT

Desafio para a próxima década está descrito no relatório anual da Organização Internacional do Trabalho

Manifestantes ocupam Wall Street, em Nova York, contra especulação, que resultou em crise financeira e corte de empregos (Foto: ©Mike Segar/Reuters)

São Paulo – Para alcançar crescimento sustentável e manter a coesão social na próxima década o mundo se encontra diante do desafio de criar 600 milhões de empregos produtivos, segundo o relatório “Tendências Mundiais de Emprego 2012: prevenir uma crise mais profunda de empregos”, divulgado nesta terça-feira (24) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). O documento revela que os últimos três anos de crise nos mercados de trabalho globais resultaram num déficit de 200 milhões de empregos.

Segundo o relatório, outro desafio mundial é criar empregos decentes para os cerca de 900 milhões de trabalhadores que vivem abaixo da linha de pobreza, com menos de dois dólares por dia, sobretudo nos países em desenvolvimento.

“Apesar dos esforços extenuantes dos governos, a crise do emprego não diminui e um de cada três trabalhadores em todo o mundo (cerca de 1 bilhão) está desempregado ou vive na pobreza”, disse o diretor-geral da OIT, Juan Somavia. 

O relatório da OIT destaca que a retomada do crescimento, a partir de 2009, foi curta e que hoje há cerca de 27 milhões de desempregados a mais que no período anterior à crise.

Existem 29 milhões de pessoas a menos na força de trabalho do que seria esperado. Se fossem contados como desempregados, o déficit chegaria a 225 milhões e a taxa mundial de desemprego subiria de 6% para 6,9%.

O relatório considera três possibilidades para este ano: um cenário de mais 3 milhões de desempregados em 2012, totalizando 206 milhões até 2016. O segundo considera que se as taxas de crescimento global caíssem abaixo de 2%, já em 2012 haveria 204 milhões de desempregados. O terceiro, mais positivo, considera a possibilidade de uma rápida solução para a dívida da zona do euro. Nesse caso, o desemprego diminuiria em 1 milhão de pessoas ainda neste ano.

Jovens 

A OIT diz que 74,8 milhões de jovens entre 15 e 24 anos encontravam-se desempregados em 2011. Em 2007, eram cerca de 70 milhões. O relatório afirma que globalmente eles têm quase três vezes mais probabilidade do que os adultos de estarem desempregados, e que a taxa global da juventude (12,7%) continua um ponto percentual acima do período pré-crise.

Outras conclusões do estudo da OIT dão conta que o número de trabalhadores com empregos vulneráveis globalmente em 2011 é estimado em 1,52 bilhão, o que representa aumento de 136 milhões desde 2000 e de quase 23 milhões desde 2009. E que em grandes economias emergentes da América Latina e do Sudeste Asiático, condições favoráveis pressionaram as taxas de criação de emprego acima do crescimento da força de trabalho.

O estudo mostra ainda que a produção por trabalhador nas economias industrializadas e na região da União Europeia foi de 72.900 dólares em 2011 contra uma média de 13.600 dólares em regiões em desenvolvimento. A diferença da produtividade nesses dois contextos tem diminuído ao longo das duas últimas décadas, embora ainda seja um dado relevante.

“Esses números refletem o aumento da desigualdade e da exclusão contínua que milhões de trabalhadores e suas famílias estão enfrentando. A recuperação dessa crise dependerá da efetividade de medidas políticas. E essas só serão eficazes se tiverem um impacto positivo na vida das pessoas”, disse Somavia.

Segundo a OIT, para solucionar essas questões é preciso coordenar as políticas à escala mundial, reparar e regular o sistema financeiro com vistas às medidas de estímulo ao emprego e alertar o setor privado para que invista sem comprometer a estabilidade fiscal.

 

Análise da OIT sobre a “crise de três etapas”

“Ao entrar no quarto ano de crise econômica mundial, os dados permitem definir três etapas. Ao impacto do desencadeamento da crise se respondeu com medidas fiscais e de estímulo coordenadas que, se bem permitiram uma recuperação do crescimento, não bastaram para atingir uma recuperação sustentável do emprego, sobretudo nas economias avançadas.

Na segunda etapa, o aumento do déficit público e os problemas da dívida soberana induziram à adoção de maiores medidas de austeridade para tranquilizar os mercados de capital. Em consequência, as medidas de estímulo começaram a minguar, e o apoio às atividades econômicas nas economias avançadas se centrou em flexibilizar as políticas monetárias. O impacto combinado parece ter debilitado tanto o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) como o do emprego. O crescimento do PIB em todo o mundo caiu de 5% em 2010 para 4% em 2011, sendo as economias avançadas as piores situadas. Em setembro de 2011, o Fundo Monetário Internacional (FMI) corrigiu a previsão de 2011 para 1,4%. As economias emergentes começaram a sentir a repercussão dessa situação.
O crescimento se manteve forte em todo 2011, mas os primeiros indícios de debilidade foram percebidos no último trimestre do ano, com a queda a produção industrial.

O endurecimento das políticas e a persistência do elevado nível de desemprego aumentaram as possibilidades de uma perigosa terceira etapa, que se caracterizaria por uma segunda queda do crescimento e emprego nas economias avançadas, o que agravaria a perturbação do mercado de trabalho ocasionada pela crise.” 

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