Trabalhadores e empresários protestam em São Paulo por taxa de juros menor

Objetivo foi pressionar os integrantes do Copom, que iniciaram reunião na terça e definem nova Selic nesta quarta. Manifesto foi assinado por trabalhadores, empresários e acadêmicos

Representantes da CUT, Força Sindical, sindicatos e entidades patronais, além da Fiesp, participam de ato por menos juros (Foto: Dorival Elze/CUT-imprensa)

São Paulo – Para marcar a nova reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, reunido nesta terça (18) e quarta (19) em Brasília, representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), da Força Sindical e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) marcharam pela avenida Paulista, centro financeiro de São Paulo, pela redução da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 12% ao ano. Enrolados em bandeiras do Brasil e das respectivas entidades, os presidentes das entidades foram até o prédio do Banco Central na cidade, onde militantes se concentraram com faixas e placas.

No texto do manifesto apresentado em evento pela manhã em um hotel na cidade, sindicalistas e empresários afirmaram que a redução dos juros implica menos entrada de capitais especulativos, cria um câmbio mais realista e competitivo, equilibra as contas públicas e aumenta a renda das famílias. O manifesto foi encabeçado pela Fiesp, a CUT, Força Sindical, sindicatos dos metalúrgicos do ABC e de São Paulo e pela Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), e também foi firmado por acadêmicos.

A expectativa alinhada pelos dirigentes sindicais presentes, como o secretário de Finanças da CUT, Vagner Freitas, e o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, é da “divisão do bolo”. Citando famosa frase do ex-ministro da Fazenda Delfim Netto sobre a necessidade de “esperar o bolo crescer para reparti-lo”, foi apontada a necessidade de se criar mecanismos para haver distribuição da renda, tal como diminuir os juros, sem esperar pela famosa expansão.

“Nós, da CUT, não acreditamos em crescimento sem distribuição da renda. Caso contrário, é acumulação de capital. Não queremos mais do mesmo e também não vamos esperar para dividir”, disse Freitas. Bancário, exemplificou sua fala com a greve do setor encerrada na segunda (17). “Será que os bancos só podiam pagar aquilo que ofereceram?”, indagou. Em negociação, os bancos – setor que, segundo ele, lucrou R$ 30 bilhões só no segundo semestre de 2010 – só aceitaram pagar 9% de reajuste aos funcionários, com 1,5% de aumento real.

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf – que caminhou ao lado do presidente da Força, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PDT) – se disse emocionado ao “cumprir mais uma luta” com as entidades sindicais. “O que estamos discutindo aqui não é interesse da CUT, nem da Força, nem da Fiesp. É interesse do Brasil”, ressaltou. “E vou falar uma coisa: não tem nada mais importante que as pessoas”, filosofou o empresário, recém-filiado ao PMDB. 

O presidente da Abimaq, Luiz Aubert Neto, disse que o governo pagou R$ 2 trilhões em juros nos últimos 16 anos. “Se corrigirmos, o montante chega a R$ 6 trilhões. Essa é a maior anomalia que nós temos na economia brasileira, hoje o brasileiro vive para pagar juros e impostos.”

“Não estamos enfrentando qualquer um, estamos enfrentando o sistema financeiro”, disse Paulinho, referindo-se aos banqueiros como “malandros”. O deputado propôs a organização de um ato similar reunindo centrais, empresários e intelectuais a cada reunião do Copom para que, segundo ele, “os burocratas não decidam por nossas vidas de novo”.

O evento é um desdobramento de um acordo firmado no início do ano entre Fiesp, as duas centrais e os dois sindicatos de metalúrgicos. Da parceria saíram eventos como o seminário que discutiu a desindustrialização e os efeitos no emprego nacional, e uma passeata na rodovia Anchieta, em julho.

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, ressaltou a necessidade de se deixar a postura de “voo de galinha” – que é o baixo crescimento da economia – que, para ele, foi adotada nos anos 1980 e 1990. Como resultado disso, nos anos 2000, o país foi a 14ª economia mundial e 3º país no ranking do desemprego.

“Nossa trajetória agora é outra. Podemos estar entre as cinco economias do mundo em 2015, lutando contra uma mazela como a miséria”, disse o economista. A crise mundial não afetou tanto o país em 2008, segundo Pochmann, pela mudança de ação do governo na diminuição dos juros. “Não há justificativa para termos juros tão altos. Não há nada que nos impeça de ter uma taxa de juros civilizada”, enfatizou.

A projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano deve ser revista pelo Ministério da Fazenda para a faixa entre 3,5% e 4%.