Avanço mais lento do PIB é resultado de pé no freio aplicado pelo governo

Com medo da inflação, governo tratou de reduzir o ritmo da expansão. Agora, sem tanta pressão sobre os preços, equipe econômica sinaliza mudanças

Mantega concorda que o pé no freio aplicado pelo Executivo e pelo Banco Central fizerem efeito (Foto: Elza Fiúza/ Agência Brasil)

São Paulo – A desaceleração da expansão da economia brasileira, verificada pelos resultados do segundo trimestre do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, é resultado de ações diretas do governo federal. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e economistas concordam que o pé no freio aplicado pelo Executivo e pela autoridade monetária fizeram efeito. Mas em um cenário de crise externa, há sinais de mudanças, para permitir um resultado satisfatório ao final deste e do próximo ano.

Na manhã desta sexta-feira (2), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os cálculos do PIB para os primeiros seis meses de 2011 e para o segundo trimestre. A soma de todas as riquezas produzidas no país alcançou R$ 1,02 trilhão de abril a junho, mas a evolução foi de 0,8% na comparação com o período anterior (considerado o ajuste sazonal, variações características de cada período do ano). O crescimento foi mais baixo do que nos períodos anteriores. Na comparação entre o primeiro trimestre deste ano e o último de 2010, a evolução foi de 1,2%.

Mantega disse que os dados mostram os resultados de ações do governo desde o final do ano passado para conter a economia e a alta da inflação. Medidas de contenção do crédito e as cinco altas na taxa básica de juros da economia – Selic – nos primeiros meses de 2011 caminharam no sentido de frear a expansão. “É natural que essa desaceleração contribua para o controle da inflação, significa um nível de atividade mais baixo”, justificou-se.

A expectativa do governo é de que, no terceiro trimestre, o ritmo seja mantido, com pouco crescimento. Apenas nos últimos meses de 2011 é que haverá nova aceleração, por causa da injeção de recursos na economia motivada pelo décimo terceiro salário pago aos trabalhadores. Mantega sustenta que mantém a estimativa de que o PIB cresça, em 2011, 4% por causa da crise internacional. A estimativa anterior era de 4,5%.

À tarde desta quinta, o mesmo Mantega indicou que o governo poderá adotar medidas de estímulo fiscal no próximo ano se necessário para garantir um crescimento de 5%. O ministro exerga o Brasil em uma sólida posição fiscal, com margem para manobrar em termos de taxas de juros (que continuam elevadas) e redução de depósito compulsórios – percentuais dos recursos captados por bancos retidas sem remuneração como forma de restringir o dinheiro em circulação no país.

O conjunto permite que o Executivo estimule a economia se isso for necessário. “Espero não ter de usar nem as políticas monetárias nem as políticas fiscais, mas se a economia não estiver tendo o desempenho esperado, então nós poderemos usar, como já usamos no passado, de modo a alcançar a taxa de crescimento de 5% no próximo ano”, disse Mantega em teleconferência à imprensa estrangeira.

O importante, na visão de Tombini, é que o país vive um ciclo sustentado de expansão. O presidente do Banco Central explica que a demanda doméstica segue como principal pilar para o crescimento. O consumo das famílias registrou alta de 1% no período, na comparação com o primeiro trimestre. “(A alta no consumo) que tem sido impulsionado pela expansão moderada do crédito às famílias, pela geração de empregos e de renda”, disse Tombini. Também houve alta nas compras do governo (1,2%).

O professor do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da Universidade de Brasília (UnB) Newton Ferreira Marques concorda que os dados do IBGE indicam desaceleração da economia e são o resultado de ações do governo. “O que se esperava era um baixo crescimento mesmo”, disse à Agência Brasil. “Está em linha com o que o governo está se propondo. Tanto é que o Banco Central, com as informações que tem, mostrou que a economia não está superaquecida como estava há pouco tempo.”

O principal indicador da importância do freio na economia foi a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, anunciada na quarta-feira (31), de reduzir a a Selic em 0,5 ponto percentual. A medida mostra que nem mesmo os setores mais ortodoxos da equipe econômica enxergam tantos motivos de preocupação com a inflação e que o país precisa de mais folga para crescer. Os detalhes que motivaram o colegiado a tomar a decisão de baixar os juros devem ser divulgados na próxima quinta-feira (8).

Com informações da Agência Brasil