Fusão Pão de Açúcar-Carrefour contraria interesse público, diz dirigente da CUT

Para Quintino Severo, secretário-geral da central, ação do BNDES é “atentado ao bom senso”

São Paulo – A participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na fusão entre Pão de Açúcar e Carrefour é “um verdadeiro atentado ao bom senso”, na visão do secretário-geral da CUT, Quintino Severo, representante do movimento sindical no Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat). A avaliação está em artigo publicado no site da CUT.

“Não é papel de instituições públicas, bancadas pelo suado dinheiro dos trabalhadores, fomentar o desemprego, o arrocho de salários e o fim da concorrência, que prejudicaria a todos com a prática de preços monopolistas”, sustenta o texto.

“Como conselheiro do FAT, indicado pela Central Única dos Trabalhadores para defender os interesses maiores da classe e da sociedade brasileira, não há como deixar de expressar a nossa mais ferrenha oposição à utilização de recursos do BNDES nestas mais do que nebulosas operações privadas”, completa. Parte importante dos recursos do BNDES vem do FAT.

Para a fusão ocorrer, é esperada uma oferta de crédito do BNDES, que entraria com até R$ 4,5 bilhões. Representantes do governo justificaram a participação alegando ser um objetivo estratégico fortalecer empresas brasileiras para a competição internacional. Quintino refuta a alegação.

“O mais absurdo de tudo é que com todo esse volume de dinheiro público, o Pão de Açúcar nada será além de uma companhia francesa, desmentindo o argumento fantasioso de que estaria em curso uma ‘internacionalização de grupos nacionais’”, afirma.

A empresa que surgiria a partir da operação deteria uma fatia de 32% do mercado. A possibilidade da criação de um “gigante” do varejo já deixa trabalhadores e sindicatos em alerta. As condições de trabalho e perda de empregos são os principais alvos de preocupação. Entidades de defesa do consumidor também manifestaram preocupação.

“Enquanto a economia solidária, micros e pequenos empresários encontram imensas dificuldades para se manter – especialmente após o último arrocho dado pela equipe econômica – as torneiras do BNDES se abrem generosas para os dois gigantes… A questão de fundo a ser debatida pela sociedade é se queremos dar um cheque em branco a uma concentração predatória, que vitaminará um monstruoso monopólio no setor varejista ou se queremos um modelo de desenvolvimento que combata as desigualdades regionais, promova as economias locais, as micro e pequenas empresas, justamente as que seriam tremendamente prejudicadas – e sufocadas – caso seja consumado este verdadeiro atentado ao interesse público”, argumenta o sindicalista.