Fontes de energia têm perspectivas diferentes no Brasil

Matriz eólica é grande aposta. Nuclear, hidrelétrica, solar e de biomassa estão nos planos

São Paulo – A projeção de um crescimento econômico médio de 4,5% ao ano até 2020 leva o Brasil a um inevitável investimento na produção de energia elétrica. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia, estima que a capacidade instalada passe de 110 mil para 170 mil megawatts até o fim da década. Para isso, a aposta envolve diversificação da matriz energética, com aposta na eólica, sem descartar pequenas hidrelétricas, energia solar, nuclear e de biomassa.

O consumo per capita voltará em 2017 ao nível mais alto da história, registrado em 2001, ano em que houve racionamento no fornecimento. De lá para cá, uso mais racional, ampliação da capacidade e aumento da eficiência energética melhoraram a situação, mas há um longo caminho a percorrer.

O Plano Decenal de Energia da EPE, divulgado neste mês, indica que as hidrelétricas continuarão como prioridade. Dos R$ 100 bilhões destinados a investimentos a serem contratados, 55% são destinados a esta fonte, que hoje representa 76% da matriz energética. Embora passe a representar 67% do total até 2020, a produção vai crescer de 82,9 mil para 115,1 mil megawatts, fundamentalmente ancorada em usinas instaladas na Amazônia. 

A seguir, as perspectivas para as principais fontes de energia nos próximos anos:

Eólica

A energia eólica desponta como grande aposta na matriz energética brasileira. Em 2010, comandou o leilão de fontes renováveis e chegou a um preço muito mais baixo que o imaginado. Com isso, a EPE estima que essa fonte responda por 7% da capacidade instalada até 2020, contra 1% atualmente. 

Pesquisadores da Coppe, núcleo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, indicam que os bons sinais não significam que o Brasil deva ficar preso a esta fonte. Em relatório emitido em maio, eles comentam o trabalho que desenvolveram junto ao IPPC, painel da ONU sobre mudanças climáticas, e asseguram que o país está fadado a ser um “seguidor de tecnologia” da energia eólica.

Pequenas centrais hidrelétricas 

As PCHs, como são conhecidas, têm processo mais rápido de construção que as grandes centrais hidrelétricas, que têm uma avaliação ambiental mais rigorosa. O que é bom para a produção de energia, no entanto, pode ser um obstáculo em termos de impacto. “Temos problemas muito sérios com PCHs porque falta rigor na aprovação, se fiscaliza menos e se exige menos condições. Cada município tem uma regra diferente, o que traz problemas”, critica Gesmar Rosa dos Santos, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Solar

A energia solar ainda engatinha no Brasil. Se a eólica conseguiu se desenvolver com a chegada de fabricantes estrangeiros e o gradativo processo de produção local de alguns componentes, a solar ainda não tem exploração comercial e a primeira planta solar começou a ser instalada no Ceará, em parceria entre estado e iniciativa privada. Espera-se para este ano uma definição da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) sobre a comercialização do excedente de pequenos geradores, como prédios, por exemplo.

Ruberval Baldini, presidente da Associação Brasileira de Energias Renováveis e Meio Ambiente (Abeama), considera que este é um grande equívoco e, pior, não está sendo corrigido, mesmo com o enorme potencial do Brasil, abastecido por sol durante a maior parte do ano. “Onde esta energia está em avanço há alguns anos tem metade da nossa insolação. Isso justificaria um esforço do governo.”

Nuclear

Os riscos na usina nuclear de Fukushima, abalada pelo terremoto que assolou o Japão neste ano, fizeram o governo recuar na intenção de instalar novas usinas. Ao menos temporariamente, já que o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, não descarta voltar a apostar nesta tecnologia. “Temos que considerar que o Brasil tem um grande potencial, domina o enriquecimento (de urânio) e tem a sexta reserva de urânio do mundo. Portanto, não devemos considerar que vamos abrir mão dessa tecnologia.”

As usinas de Angra 1 e Angra 2 asseguram atualmente 2.007 megawatts, aumentando para 3.412 em 2016, com a inauguração de Angra 3. O longo prazo para construção dessas usinas, somado ao risco, deve dificultar os planos de ampliação.

Biomassa

A biomassa vai mais que dobrar a participação na capacidade instalada brasileira, passando de 4.496 megawatts atualmente para 9.163 megawatts em 2020. A EPE estima que a maior parte virá da energia gerada por cana-de-açúcar, mas admite que há problemas neste campo. A maior parte dos usineiros prefere reaproveitar parte da energia gerada pelo bagaço na própria produção de açúcar e etanol, sem comercializá-la com o Sistema Integrado Nacional.

Santos, do Ipea, não acredita que vá se cumprir a projeção de que a biomassa a partir da cana represente 3,4% da potência instalada até 2020. O grande problema é que a produção de energia está diretamente atrelada às oscilações do mercado de etanol e de açúcar, que levam o produtor a aumentar ou diminuir sua área plantada. Em outras palavras, fica difícil fazer projeções. “É um setor que se move por um conjunto de fatores, incluindo incentivos governamentais, isenção tributária, garantia de mistura do etanol anidro na gasolina.” 

Potencial dos oceanos

O painel da ONU para mudanças climáticas concluiu que o Brasil tem um potencial enorme de exploração do potencial energético a partir das ondas do mar. A tecnologia, que vem sendo estudada na Europa, poderia ser aplicada a praticamente todo o litoral nacional, com reduzidos impactos ambientais. Para os pesquisadores da Coppe, o Brasil, principal detentor da tecnologia de exploração do petróleo a altíssimas profundidades, não teria qualquer dificuldade em explorar esta técnica. “Esse é um campo em que o Brasil pode fazer a diferença. Justamente porque a tecnologia ainda não está madura, há uma janela de oportunidades para quem quer investir e sair na frente”, apontou o professor Segen Stefen em comunicado da UFRJ.

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