Governo, sindicalistas e empresários discutem futuro da indústria

Redução de encargos e tributos, crise cambial, apoio a exportadores e atuação em terreno antes só explorado por asiáticos estão em cardápio de encontro em São Paulo

Países emergentes têm dado a dinâmica da economia, afirmou Pimentel (Foto:Rossana Lana / SMABC)

São Paulo – Uma antiga fábrica no bairro da Mooca, bairro paulistano onde se concentrou grande parte da incipiente produção industrial brasileira, foi o cenário escolhido para o encontro entre trabalhadores, empresários e governo para discutir medidas de apoio à indústria, nesta quinta-feira (26). O fantasma chinês pairou em todas as discussões entre os antigos muros de tijolos expostos. A Fiesp alertou para o risco de desindustrialização do país, devido ao crescimento das importações, enquanto os trabalhadores defendem que este o momento é ideal para um “salto de qualidade” rumo ao desenvolvimento sustentável.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, disse que o Brasil terá de conviver ainda por algum tempo com um real valorizado, mas anunciou que as diretrizes de um plano nacional de competitividade deverão ser formatadas no mês que vem. A proposta de defesa da indústria inclui “defesa comercial ativa”, redução de encargos e tributos e apoio à exportação.

A proposta de desoneração discutida no Ministério da Fazenda, lembrou Pimentel, prevê redução de encargos e tributos não só sobre folha de pagamento, mas também sobre bens de capital. “O Brasil é o único país que tributa o investimento”, afirmou.

Um dos participantes da negociação em Brasília conta que a redução de encargos do INSS será transferida para o faturamento das empresas. E elas estão de acordo, acrescentou. “Todo setor intensivo em mão de obra quer. Quem emprega menos vai pagar proporcionalmente um pouco mais”, afirmou. O grupo de trabalho formado na quarta (25) deverá delinear os detalhes da proposta em aproximadamente um mês.

O secretário de Administração e Finanças da CUT, Vagner Freitas, afirmou que o Brasil vive o momento apropriado para melhorar a qualidade do emprego e reduzir a desigualdade social. “O diálogo social só é possível nessas condições (de crescimento econômico)”, afirmou.

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, enfatizou que os empregos de melhor qualidade estão no setor industrial, que “demanda os serviços e fornece ao comércio”, ou seja, dá a dinâmica da economia. “Com todo respeito ao setor, não sonhem em trabalhar na mineração”, disse à plateia de sindicalistas e empresários. Ele reafirmou que a indústria de manufaturados deverá ter déficit comercial de US$ 100 bilhões este ano e cobrou um plano estratégico para o Brasil. “Os chineses estão vendo os interesses deles. Não podemos nos submeter aos outros.”

Para o ministro Pimentel, o mundo vive uma “situação paradoxal interessante”, com os países desenvolvidos sem conseguir sair da crise econômica e os emergentes, dando a dinâmica da economia internacional. Ele creditou o problema cambial à política monetária norte-americana, que atinge o mundo inteiro, e disse que o Brasil ainda terá de conviver com essa questão por um período imprevisível. Disse ainda que a China é um “cliente estratégico”, mas que o Brasil está atento a práticas desleais de comércio. “Temos hoje 25 projetos antidupimg em andamento. Nenhum foi contestado pela OMC (Organização Mundial do Comércio)”, afirmou.

Segundo Pimentel, nesta quinta seria publicada a portaria que regula o Processo Produtivo Básico (PPB) dos tablets, com exigências de nacionalização. No caso dos displays, esse índice deverá atingir pelo menos 50% até 2012. “É uma meta pesada”, comentou. “Na ponta, vamos ser o primeiro país, fora da Ásia, com produção de tela de display.” Ele estima que o Brasil começará a fabricar telas de tablets em aproximadamente três anos.

Intitulado “Brasil do Diálogo, da Produção e do Emprego”, o seminário vai até o final da tarde, quando será encerrado pelo vice-presidente da República, Michel Temer. Mais notícias no decorrer do dia.

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