Para câmara de comércio, investimentos da China exigirão esforço do Brasil

Mão de obra e infraestrutura são problemas que Câmara Brasil-China indica como fundamentais para dar conta do dinheiro injetado pelo país asiático a partir de visita de Dilma

A empresa Foxconn, de Terry Gou, promete investimentos de US$ 12 bilhões no Brasil; país dificilmente terá mão de obra disponível, mas acordo é avanço (Foto: Roberto Stuckert Filho/Pr)

São Paulo – Os investimentos prometidos por empresas chinesas em território brasileiro vão exigir do governo respostas à altura dos desafios. Kevin Tang, diretor da Câmara de Comércio Brasil-China, entende que foi proveitosa a viagem da presidenta Dilma Rousseff à nação asiática na semana passada.

“A intenção do Brasil é muito boa. No entanto, simplesmente querer exportar mais não dá. Tem de fazer por onde. A gente precisa ter as condições e a base para fazer isso acontecer. E a China já fez isso acontecer. Investiu em tecnologia, em educação, em infraestrutura.”

Em sua maior viagem internacional até agora, a presidenta teve uma agenda voltada à integração comercial com os chineses, que são atualmente o principal parceiro econômico do Brasil. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as transações entre os países ficaram em US$ 56 bilhões em 2010, crescimento de 52% frente ao ano anterior e de quase 25 vezes em relação a 2000.

Durante a missão de cinco dias, chamou atenção o valor a ser investido pela Foxconn, empresa da área de tecnologia da informação que prometeu injetar US$ 12 bilhões nos próximos seis anos na economia nacional. “Dificilmente teremos a capacidade de mão de obra disponível para o que eles anunciaram, 100 mil pessoas. De todo modo, é um sinal positivo, que já representa uma nova etapa na qual as empresas chinesas estão vindo para o Brasil para produzir”, analisa Tang.

A intenção da Foxconn é produzir no Brasil tablets e outros equipamentos eletrônicos, que acabariam por chegar ao mercado nacional em preços mais baixos que os praticados atualmente. A princípio, fala-se que a empresa ampliará suas atividades em Jundiaí (SP), a 58 quilômetros da capital, na qual atua com a produção de telefones celulares. 

A presidenta Dilma admitiu, em seu programa semanal de rádio, que será preciso investir na capacitação de trabalhadores, sobretudo no setor de tecnologia da informação. “Acho que foi um salto de qualidade em nossas relações, mas queremos mais. Hoje, vendemos muita matéria-prima para a China. Queremos vender a matéria-prima, mas também queremos vender produtos mais elaborados.”

Valor agregado

Este é um dos problemas para os quais é difícil uma resposta imediata. Dilma partiu para a China com a clara intenção de melhorar a qualidade das relações comerciais. Entre 2000 e 2010, as vendas do Brasil para o gigante asiático foram de US$ 1,1 bilhão para US$ 30,8 bilhões, ou 15% das exportações nacionais.

O problema, segundo levantamento divulgado este mês pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), é que a maior parte da pauta de comércio diz respeito a produtos primários – 40% para minérios, 23% para oleaginosas e 13% para combustíveis minerais -, as chamadas commodities. 

Os chineses, por outro lado, mandam para cá produtos de tecnologia, que têm alto valor agregado e tendem a se manter lucrativos a longo prazo, diferentemente de produtos básicos, que podem variar bastante, fazendo com que a balança fique negativa.

Durante a viagem, a Embraer oficializou a venda de 35 aeronaves para as companhias China Southern e Hebei Airlines por US$ 1,4 bilhão. Para Kevin Tang, uma transação importante, mas que não muda a essência da relação comercial entre os dois países. “É muito mais uma questão de o Brasil ser mais agressivo, tentar buscar outras oportunidades. Há serviços que o Brasil tem condições de vender para a China”, analisa, dando como exemplo as áreas de celulose e de produção de alimentos, nas quais seria possível exportar tecnologia.